domingo, 8 de outubro de 2023

A VIDA DO IDOSO


A vida de uma pessoa não segue marcha igual. Desfila diferenças segundo sua evolução física, psicossocial e espiritual. Todas elas plenas de conquistas e de belas recordações para serem curtidas quando idosos.


Sendo médico, para satisfação minha, sou sempre lembrado para contar histórias, principalmente sobre o total de partos que realizei.


Lembro-me perfeitamente do primeiro. Ocorreu na Maternidade Escola das Laranjeiras, da Universidade do Brasil (1958). O catedrático de obstetrícia, o prestigiado professor Rodrigues Lima, foi-me dado o prazer, anos depois, de o recepcionar na UFMT, quando realizou uma palestra sobre Planejamento Familiar.


Volto ao caso: o parto se deu em um plantão noturno, convocado que fui por experiente enfermeira. Tratava-se de um caso de multípara, com o feto já aflorando para nascer sem ajuda humana.


Demorei para me paramentar, brigando com as luvas que teimavam em não entrar em minhas mãos.


Já não me lembro do primeiro Fórceps de Simpson que apliquei, chamado de ‘alívio’. De igual modo da primeira cesariana. É bem provável tenha ocorrido no Hospital e Maternidade Pro Matre, na cidade do Rio de Janeiro.


De lá para cá não parei de fazer partos de todas as formas possível: a maioria, simples; mas alguns complicados, à feição do parto de uma das minhas netas.


Por preguiça mental, em tempo algum anotei o número de partos de que participei. Ouso imaginar que foram mais de dez mil! Bem possível, a julgar os meus cinquenta anos como médico parteiro.


Soubesse que isso despertaria tanto interesse dos leitores nesta altura de minha vida, esforçando-me por chegar aos noventa para ganhar o título de velho, já com ambições de ser ancião aos cem anos, teria providenciado um diário. Ainda que fosse só para anotar os partos por mim realizados.


Foram tantos os partos que empreendi na antiga Maternidade de Cuiabá! Tantos que, extenuado, só prescrevia a medicação, deixando de registrar, no prontuário da gestante, o tipo de procedimento.


Lembro-me perfeitamente da primeira injeção intramuscular que apliquei em julho de 1955, na Cuiabá dos meus amores. Foi no músculo deltoide do braço direito, do primeiro prefeito eleito de Alto Paraguai, antigo Gatinho.


Esse procedimento, eu o realizei na casa dele, na antiga rua do Campo. Por sinal, em frente à minha.


A medicação cuidava de Gripeonase com vitamina C. Curioso: depois, não mais receitei em minha carreira profissional, mas era popularíssima na época.


O laboratório da injeção patrocinava várias novelas da Rádio Nacional do Rio de Janeiro, antes da televisão.


A Rádio Nacional traduzia o único veículo de comunicação que chegava no interior do Brasil. Daí a popularidade desse medicamento e outros, a exemplo das pastilhas Valdas, para dor de garganta.


A vida do idoso, peço-lhe licença, prezado leitor, é contar histórias, à feição destas, aos mais jovens.


Gabriel Novis Neves

18-09-2023













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