Tinha
acabado de completar quinze anos de idade, quando, em um domingo à tarde,
lutava para que o imenso rádio da minha casa conseguisse sintonizar a Rádio
Nacional do Rio de Janeiro.
A
emissora, então líder de audiência no Brasil, operava em AM e, com a tecnologia
da época, o “chiado” dificultava, e muito, a qualidade do som recebido nos mais
distantes rincões deste país.
Estava
preparado, naquele longínquo 16 de julho de 1950, para ouvir pela primeira vez
a transmissão de uma final de Copa do Mundo no recém-construído Estádio
Municipal do Maracanã, no Rio de Janeiro.
O
Brasil era o franco favorito. Com um simples empate se consagraria campeão
diante do Uruguai, seu adversário, tecnicamente inferior.
No
maior estádio de futebol do mundo, duzentos mil apaixonados torcedores
aguardavam ansiosamente o início da partida. A vitória estava a noventa
minutos...
O
país literalmente parou para a grande festa naquela tarde que prometia ser
inesquecível.
Pelas
gerais, arquibancadas e cadeiras cativas, faixas, camisetas e bonés do Brasil
eram vendidos com o título de Campeão Invicto do Mundo.
A
nossa seleção era dirigida pelo técnico do Clube de Regatas Vasco da Gama, do
Rio de Janeiro.
Era
uma seleção carioca, com seis jogadores do Vasco, dois do Flamengo, um do
Fluminense, um do São Paulo e um do Palmeiras.
Alguns
gênios do nosso futebol esquentavam o banco de reservas, como o imortal Nilton
Santos, campeão carioca em 1948 pelo Botafogo de Futebol e Regatas.
Nosso
fraco adversário era comandado pelo líder Obdúlio Varela e dez guerreiros.
Aquilo
que parecia fácil foi se tornando, à medida que a bola rolava, em uma agonia. O
primeiro tempo terminou empatado, sem nenhum gol.
No
início do segundo tempo nosso ponta direito marca o gol da ilusão. Os uruguaios
não se abateram e viraram o jogo contra o vencedor antecipado, pelo clássico
placar de 2x1.
Nunca
duzentas mil pessoas haviam chorado juntas, transformando o Maracanã em um
imenso cemitério.
Em
Cuiabá o adolescente desligou o rádio e, como nunca, transformou-se num
inveterado torcedor do Fogão.
O
domingo terminava com o sonho desfeito da conquista da Copa!
Gabriel
Novis Neves
27-08-2015
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