Há
dias fiquei estarrecido diante da entrevista de um dos vários MCs da
atualidade, responsável por um faturamento de, aproximadamente, quatrocentos e
cinquenta mil reais mensais, isto dito por ele mesmo.
Seu
linguajar, omisso às obediências gramaticais, cheio de gírias locais,
transmitia pragmatismo e segurança.
Ficou
claro para mim que as periferias estão abdicando totalmente do assistencialismo
mentiroso do Estado e passando a lutar por sua própria integração.
Esses
profissionais vêm transformando através da música, no caso o funk, as
periferias brasileiras em grandes polos de investimento e consumo.
Estudos
mostram que o faturamento dessa faixa da população atinge no Brasil a cifra de
setenta e nove bilhões de reais.
Crescem
dia a dia as grifes dedicadas aos funkeiros e seus adeptos, as festas nas lajes
(já contando com a garotada do asfalto, e muito mais lucrativas do que as do
chamado mundo do glamour) e o grande incremento do turismo externo, atraído
pelo exótico e, principalmente, pelo preço muito mais acessível.
A
enorme quantidade de vídeoclipes por eles lançados, artesanalmente no início,
foram logo impulsionados pelas grandes gravadoras e são enorme fonte de lucros.
Enquanto
isso, o que se observa é a nítida falência do mundo do asfalto, em que
restaurantes famosos estão sendo fechados e seus proprietários procurando seu
público em Miami, comércio decadente,
com trinta e três por cento a mais que no ano passado de lojas fechadas e o aumento assustador da violência.
Essa
grande mudança, que já vem ocorrendo há alguns anos, só agora é percebida pela
chamada classe média, composta por profissionais liberais, pequenos empresários
e comerciantes, enfim, por pessoas que vivem unicamente do seu trabalho, e que
oscila entre a apatia e o enquadramento a essa nova realidade, unindo-se a ela
em vez de enfrentá-la.
Os
mais abastados já estão com seus destinos definidos e apenas esperam a hora de
imigrar para seus paraísos de luxo e de consumo, já que as viagens frequentes
não mais os satisfazem.
Pensando
nisso, acho que fica fácil entender a nossa classe política atual, totalmente
desinteressada dessa burguesia falida e de uns minguados intelectuais
descontentes, já que seu interesse maior é salvar seus próprios privilégios.
Esmeram-se
em agradar os banqueiros, os altos empresários, a alta burguesia mercantil e,
como esteio final às suas aspirações, a classe C e as periferias.
Isso
explica também porque nada é feito quanto ao tráfico de drogas, responsável por
uma vultosa organização financeira.
A
corrupção, segundo o presidente Obama o câncer da atualidade, entra em todo
esse quadro como fator propulsor e, com suas metástases, vai se espalhando por
todos os lados da sociedade de uma forma endêmica.
Quem
sabe as modificações intensas nas periferias das nossas cidades possam criar
uma nova cultura bem mais igualitária?
Não
há mais dúvidas que desigualdade é o nosso maior problema.
Somos
duzentos milhões de pessoas em busca de suas próprias soluções criativas, já
que nesses quinhentos anos de existência nada nos foi dado pelo poder
estabelecido.
Só
entendendo essa mutação histórica iremos conseguir metabolizar tudo o que está
acontecendo e tentar sair um pouco menos chamuscados de toda essa intensa
crise.
O
momento, além de recessão, é de muita reflexão.
Gabriel
Novis Neves
18-08-2015
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