Tenho
observado como o humor de certas pessoas transita no decorrer do dia. Vai do
mais baixo astral à euforia total.
Há
dias visitei um amigo pela manhã. Tudo para ele estava muito ruim em termos
físicos, psíquicos e materiais.
Ao
conversar comigo, não conseguiu conter as lágrimas de sofrimento. Queixou-se da
situação em que vive o nosso país, da sua completa adinamia e até de problemas
financeiros e amorosos.
Disse
que a solidão é a sua permanente companhia, e o nosso calor o seu maior
inimigo, chegando a ser um verdadeiro castigo.
Deixei
o encontro completamente arrasado e preocupado com a situação daquela pessoa
tão querida! Gostaria de ajudá-lo, sem nem ao menos saber por onde começar.
À
noite voltei a procurá-lo e não acreditei naquilo que presenciei. Mesmo com a
derrota do seu time do coração, ele estava otimista, falante e, o mais
interessante, não se queixava de nada, mesmo com o nosso calor sufocante.
Fiquei
sem entender a tudo que assistia em profundo silêncio. Preferi ouvi-lo contar
as novidades de maneira muito agradável.
Deixei
a companhia do amigo bem tranquilo, embora, sem entender o que acontecera.
No
dia seguinte, por pura curiosidade, perguntei a sua competente e de extrema
confiança cuidadora, se algo acontecera no intervalo das minhas visitas.
Com
a discrição de uma profissional, relatou apenas que durante longo tempo o meu
amigo havia conversado ao telefone e, ao encerar a ligação, era outra pessoa.
Sofrera uma metamorfose auditiva.
Invadindo
a sua privacidade, tentei ainda saber da sua acompanhante detalhes desse
telefonema terapêutico.
Único
dado que consegui é que isso acontecia sempre.
Foi
o suficiente para, pelo menos, chegar a uma hipótese diagnóstica - alguém à
distância lhe faz muito bem.
É
uma resposta racional para tentar explicar a história do oito aos oitenta no
humor de certas pessoas.
Gabriel
Novis Neves
18-07-2015
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