Diante
do meu terceiro tempo de vida, passo dias e dias em intensa reflexão, coisa
para quem tem todo o tempo do mundo e se dispõe a passar a limpo os encantos e
os desencantos de suas vivências.
Sim,
estou em plena “fase da reflexão”!
Quando
chega ao mundo, o ser humano, para convivência com os da sua raça, entra na
“fase da formação”.
Nos
primeiros seis anos de vida ele forma todos os seus valores e, o que é pior,
muitos desvalores passados pelos familiares, pelo meio em que vive, pelas
religiões que lhe são impostas e por todas as caretices criadas pela sociedade
com suas ambivalências e suas idiossincrasias.
Enfim,
despidos de qualquer capacidade decisória, o homem torna-se naquilo que determina
o sistema.
De
um modo geral, já em período escolar, o ensino tradicional não contribui muito
para desenvolver a criatividade.
Matérias
obsoletas e desnecessárias compõem um currículo que de pouca utilidade se mostrará na vida adulta.
Estatísticas
mostram que 80% das pessoas não trabalham no que realmente gostam.
Discussões
filosóficas fundamentais para a vida não são feitas nas escolas nem no meio
familiar.
Passada
essa fase da formação, surgirá o adulto pronto na sua nova “fase da ação”.
Tudo
é muito dinâmico, pouco pensado, impulsionado pelo sexo, pelo poder e pela
força.
Certamente
ele virá repleto de mentiras e hipocrisias, portador de máscaras para cada
momento de sua vida futura, sempre calcada no sucesso financeiro que, segundo o
que lhe foi transmitido, representa a felicidade total.
Foram
absorvidos, ou não, condicionamentos patológicos dos mais diversos tipos, e
eles os acompanharão pela vida afora.
Cheios
de prepotência, não pararam para discutir se o que aprendeu foi certo ou
errado, e apenas repetem os modelos neuróticos que aprenderam a usar em função
do tão buscado “sucesso na vida”.
O
outro passa a ser apenas um detalhe e é atropelado sem culpa, desde que isso se
imponha para o crescimento pessoal.
Dessa
forma, criam-se bandos e bandos de egoístas compulsivos que, tendo se
comprometido a uma convivência civilizada, transformam o mundo num lugar tenso,
angustiante, sujeito a todo tipo de violência.
Apenas
na velhice, nesse terceiro ciclo da vida, começamos a vivenciar “a fase da reflexão”.
Essa
sim deveria ser a fase em que, já sem as tarefas da procriação e do dinheiro
que o mundo exige, o ser humano poderia se dedicar ao aprimoramento da sua vida
emocional.
Pena
que nessa fase muitos indivíduos sofrem a interferência dos chamados
“familiares bem intencionados” que, imbuídos de uma compaixão desnecessária e
inexistente, passam a interferir na privacidade do idoso, duvidando, portanto,
da sua perfeita capacidade de autogestão.
Isso
acontece inconscientemente e, algumas vezes, nas melhores das intenções.
Alguns
idosos aceitam essa poda física e emocional, enquanto outros, mais reflexivos,
questionam esses comportamentos, tornando-se difícil a convivência com os
circunstantes.
É
como se ele (o idoso) não tivesse mais capacidade de reflexão, justo na fase em
que ela aparece com total intensidade.
Com
a plena consciência de que não há mais tempo a perder, a idade demanda pressa e
interesse maior por tudo que a rodeia.
Gabriel
Novis Neves
04-06-2015
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