O
dia desejado nos obriga a percorrer vários caminhos, alguns mais longos que o
esperado.
Costumamos
chamar de espera esse período que, para muitos, causa transtornos, sendo o mais
frequente o cansaço mental atingindo o nosso órgão de choque.
Na
velocidade do mundo atual, quando, com um simples toque no teclado de um
celular atingimos o outro lado do mundo, o tempo de espera é inconcebível.
Só
mesmo o genial Camões, há quase quinhentos anos, imaginava que um jovem
esperaria satisfeito, realizando trabalhos braçais para o seu futuro sogro
durante sete anos para se casar. Depois, prorrogava por mais sete anos esse
evento, tudo na mais completa harmonia!
Hoje,
presenciamos o cansaço da espera, às vezes, bem curta, mas desejável ao ponto
de causar fissuras no mais belo dos relacionamentos.
Vivemos
na geração do agora e do já, onde o amanhã é uma hipótese em um mundo tão
repleto de tragédias.
São
tantas as informações de catástrofes que recebemos em apenas um dia que o verbo
esperar tende a desaparecer dos dicionários.
Acompanho
como médico há mais de meio século o milagre da reprodução humana que, para o
seu êxito, o tempo da concepção ao nascimento varia de trinta e oito a quarenta
e duas semanas.
O
trabalho de parto normal, sem nenhuma intercorrência, tem o seu tempo previsto
em dez horas.
Os
jovens do século XXI estão encurtando essa espera fisiológica, solicitando a
interrupção da gestação tão logo o feto se torne viável para a vida
extrauterina.
De
acordo com a retaguarda da maternidade esse encurtamento pode chegar facilmente
a oito semanas.
Parto
normal? Coisa do passado! A espera é longa demais para a ansiedade das
parturientes e familiares.
Daí,
a incidência altíssima de cesarianas com data e horário marcados no Brasil,
especialmente na rede privada, chegando à média de quase noventa por cento dos
nascimentos.
É
bom lembrar que a duração desse procedimento cirúrgico é de apenas quarenta
minutos.
E
os casais enamorados? Muitos não suportam a espera de um encontro, mesmo que
esse tempo represente apenas algumas semanas.
Por
maior que seja o controle emocional, nível intelectual, amadurecimento,
compreensão, amizade, intimidade, sempre surgem sinais e sintomas do cansaço da
espera, extravasado em determinadas ocasiões.
Como
é terrível a espera para aqueles que não foram treinados para essa função, como
os caçadores, pescadores, jogadores de xadrez e médicos parteiros de
antigamente!
A
espera virou sinônimo de sofrimento. É a modernidade.
Gabriel
Novis Neves
01-06-2015
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