Quem
já passou por todas as fases do desenvolvimento humano e teve o privilégio de
ancorar na faixa seleta dos idosos, sem a Doença do Alemão, lembra-se de tudo
que aconteceu na sua vida, embora, poucas recordações estejam disponíveis nas
prateleiras do consumo.
Certa
ocasião, alguém, só para contrariar o grande poeta Vinícius de Morais, disse
que “viver é melhor que ser feliz”.
Uma
verdadeira blasfêmia para quem procurou, insistentemente, a felicidade,
divulgando em poemas e canções populares a sua verdade liberticida.
Certa
ocasião, entrevistado por uma jovem e inexperiente repórter na mesa de um bar,
o poeta da canção, já no horizonte da sua despedida, respondendo a uma pergunta
sobre o que ele achava do seu estado atual, afirmou que era um idoso e que,
felizmente, a juventude era breve.
Apenas
um momento de incertezas e descobrimentos, sendo o melhor dele aquele que já
passou.
Depois
dessa fase de explosão hormonal e sentimentos, tudo fica mais lento e ninguém
tem pressa de nada.
É
como se estivéssemos na madrugada da vida, sem vontade de ver o novo dia
chegar.
O
idoso sabe que o futuro somos nós, e o tempo não espera.
Daí
o fascínio que esta fase da minha vida me causa.
Isso
nada tem a ver com a chamada “melhor idade”, termo pejorativo para mim.
É
a fase da compreensão e da doação, em que sabemos que não possuímos o dom de
mudar o mundo, muito menos a vida das pessoas.
Nós
é que mudamos com a idade.
A
vida nada nos dá ou nos deve. Nós é que estamos nela.
É
sempre emoção.
Será
que escrevo apenas para tornar a minha vida mais excitante?
Pelos
descaminhos da vida tentamos, frequentemente, abrir porteiras fechadas que,
entretanto, bastava que tivéssemos um pouquinho mais de sensibilidade para
compreender que elas estavam totalmente trancadas e que seria em vão o nosso
esforço em tentar abri-las.
Aprendemos
nessa fase outonal, que tudo que nos encanta deve estar harmoniosamente
escancarado.
Não
há mais tempo para tentar decifrar o indecifrável e, muito menos, para tentar
mudar qualquer coisa que funcione como obstáculo.
É
só partir para o futuro, quem sabe qual, mas, sem o compromisso de derrubar as
porteiras fechadas dos sentimentos.
Que
venham com força todas as emoções verdadeiras, pois elas é que nos darão forças
para manter a alegria de viver.
O
nosso futuro é hoje!
Gabriel
Novis Neves
20-06-2015
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