Descia
de elevador no meu prédio e logo ele parou para a entrada de uma criança de uns
doze anos de idade.
Ela
era franzina, sem sinais físicos da puberdade, vestia camiseta e short e
sandália de dedo, vendendo inocência.
Cabisbaixa,
“viajamos” até o andar térreo.
A
impressão que a menina me passou é que tinha realizado uma das fantasias da
infância – dormir na casa de uma amiguinha.
Fui
criança, pai, avô e sei perfeitamente que, em sua maioria, as crianças têm essa
necessidade emocional, puramente cultural.
A
minha surpresa ocorreu quando, ao abrir a porta do elevador no andar térreo,
ela me perguntou com olhar e voz de medo: “é perigoso andar na rua”?
Era
uma manhã de domingo, mais ou menos às nove horas, com sol escaldante e pessoas
na rua em suas andanças matinais.
Indaguei
onde morava e, para meu espanto, respondeu que era na mesma rua do meu prédio,
a uma distância de três quadras.
Acalmei-a
dizendo que poderia seguir tranquilamente para a sua casa, já que o movimento
na rua era intenso.
Gente
indo para a missa, outros para a padaria da esquina, sendo ainda grande o
número de atletas de final de semana caminhando e correndo pelas calçadas do
bairro.
Ela
saiu andando, porém, demonstrando certo medo. Eu entrei no meu carro para
visitar um amigo.
As
palavras e a imagem de medo naquela criança despertou em mim um antigo
questionamento: criança tem medo? Este medo que nós adultos sentimos ao sair na
rua?
Pude
constatar através daquela criança que, sim, as crianças têm medo de andar pelas
ruas sozinhas. Apesar de ser de manhã, em uma rua movimentada e ser considerado
bairro de classe média alta.
Lamentavelmente,
esta atitude infantil traduz o grau do temor em que se encontra a sociedade em
geral. Ninguém confia em ninguém.
Depois,
uma espécie de remorso tomou conta de mim.
Apesar
da minha vontade, tive medo de oferecer uma carona àquele pequeno ser e ser mal
interpretado. Principalmente pelos pais.
Passei
o resto do dia revendo conceitos educacionais e a realidade social a que
chegamos, onde impera a violência, especialmente, contra as mulheres e
crianças.
A
conclusão é a que venho repetindo nos meus escritos: “a humanidade não é
viável”.
Pobres
crianças amedrontadas! Precocemente tiveram de substituir o medo do bicho-papão
pelo medo a um simples e pequeno caminhar pelas calçadas de sua cidade!
Estamos
num mundo cruel com uma sociedade alienada.
Impossível
pensar em futuro melhor para nossos descendentes!
Gabriel
Novis Neves
02-06-2015
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