sábado, 30 de novembro de 2013

Vida de pobre

Tenho uma faxineira que uma vez por semana presta seus serviços profissionais em minha casa.
Há mais de um mês disse-me que o seu pai precisava ser internado com urgência para operar a próstata.
Depois de tentar, e esperar por muito tempo uma consulta pelo SUS, a família, de trabalhadores humildes, fez uma cota para uma consulta particular em hospital comunitário.
Após ser examinado, o médico solicitou exames básicos de sangue e urina e uma ultrassonografia. Outra cota é realizada entre os filhos.
No retorno à consulta, e com o resultado dos exames solicitados, foi indicada internação imediata para o procedimento cirúrgico. Havia a hipótese diagnóstica de câncer da próstata.
A família quis saber o preço do tratamento, já que o pai era um velho trabalhador rural, sem bens e vivia de uma aposentadoria do INSS no valor de um salário mínimo.
A informação recebida era que o pacote do tratamento ficaria em oito mil reais, incluindo: equipe médica, medicamentos e diárias no hospital.
Preço esse bem abaixo do de mercado e semelhante ao dos planos de saúde que, por sua vez, não ficam muito distanciados da tabela do SUS.
Sem condições financeiras, e tendo a matrícula do SUS, a família procurou a Central de Regulação para agendar a consulta com os exames já feitos.
Diariamente, a aflita família procurava informações sobre a data da tão esperada e desejada consulta - que poderia ser o ponto de partida para a recuperação do idoso aposentado.
Esgotadas as desculpas burocráticas dadas por daquele órgão, foi dita a verdade à família do pobre agricultor.
A consulta só seria agendada quando estiver em funcionamento o primitivo hospital neurológico de vida prematura e em vias de transformação para um moderno Hospital de Clínicas.
Seu prédio é privado, e agora alugado à prefeitura de Cuiabá para ampliação do número de leitos de cem para duzentos e cinquenta, contando com os das Unidades de Tratamentos Intensivos (UTIs).
Será um hospital para atendimentos de pacientes de média e alta complexidade - referência no Estado. Sua administração será da recém-criada ECS (Empresa Cuiabana de Saúde).
O governo municipal tinha anunciado para dezembro o seu pleno funcionamento. Mas, pelo fiquei sabendo, se ficar pronto para os jogos da Copa, já está de bom tamanho.
Só Deus sabe quando este necessitado brasileiro será atendido. Essa é a nossa mais pura realidade social, que a poeira da modernização da cidade pretende esconder.
Tenho vários colegas amigos e ex-alunos trabalhando no SUS e sei que gostariam imensamente de atender um pedido do velho parteiro. Entretanto, o sistema não lhes oferece essa oportunidade, pois está totalmente sucateado e sem leitos, especialmente para média e alta complexidade.
Recentemente vivi esse drama com um dos fundadores da UFMT. Mesmo com a solidariedade dos amigos do SUS, esperei seis meses para a sua internação, por ser meu amigo-irmão.
Os próprios dirigentes do SUS procuram sempre hospitais privados quando necessitam de um simples atendimento médico. 
Assim é a vida do pobre, honesto e anônimo construtor das riquezas deste Estado na futura capital do agronegócio.

Gabriel Novis Neves
21-11-2013

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