Tenho
uma faxineira que uma vez por semana presta seus serviços profissionais em
minha casa.
Há
mais de um mês disse-me que o seu pai precisava ser internado com urgência para
operar a próstata.
Depois
de tentar, e esperar por muito tempo uma consulta pelo SUS, a família, de
trabalhadores humildes, fez uma cota para uma consulta particular em hospital
comunitário.
Após
ser examinado, o médico solicitou exames básicos de sangue e urina e uma
ultrassonografia. Outra cota é realizada entre os filhos.
No
retorno à consulta, e com o resultado dos exames solicitados, foi indicada
internação imediata para o procedimento cirúrgico. Havia a hipótese diagnóstica
de câncer da próstata.
A
família quis saber o preço do tratamento, já que o pai era um velho trabalhador
rural, sem bens e vivia de uma aposentadoria do INSS no valor de um salário
mínimo.
A
informação recebida era que o pacote do tratamento ficaria em oito mil reais,
incluindo: equipe médica, medicamentos e diárias no hospital.
Preço
esse bem abaixo do de mercado e semelhante ao dos planos de saúde que, por sua
vez, não ficam muito distanciados da tabela do SUS.
Sem
condições financeiras, e tendo a matrícula do SUS, a família procurou a Central
de Regulação para agendar a consulta com os exames já feitos.
Diariamente,
a aflita família procurava informações sobre a data da tão esperada e desejada
consulta - que poderia ser o ponto de partida para a recuperação do idoso
aposentado.
Esgotadas
as desculpas burocráticas dadas por daquele órgão, foi dita a verdade à família
do pobre agricultor.
A
consulta só seria agendada quando estiver em funcionamento o primitivo hospital
neurológico de vida prematura e em vias de transformação para um moderno
Hospital de Clínicas.
Seu
prédio é privado, e agora alugado à prefeitura de Cuiabá para ampliação do
número de leitos de cem para duzentos e cinquenta, contando com os das Unidades
de Tratamentos Intensivos (UTIs).
Será
um hospital para atendimentos de pacientes de média e alta complexidade -
referência no Estado. Sua administração será da recém-criada ECS (Empresa
Cuiabana de Saúde).
O
governo municipal tinha anunciado para dezembro o seu pleno funcionamento. Mas,
pelo fiquei sabendo, se ficar pronto para os jogos da Copa, já está de bom
tamanho.
Só
Deus sabe quando este necessitado brasileiro será atendido. Essa é a nossa mais
pura realidade social, que a poeira da modernização da cidade pretende
esconder.
Tenho
vários colegas amigos e ex-alunos trabalhando no SUS e sei que gostariam
imensamente de atender um pedido do velho parteiro. Entretanto, o sistema não
lhes oferece essa oportunidade, pois está totalmente sucateado e sem leitos,
especialmente para média e alta complexidade.
Recentemente
vivi esse drama com um dos fundadores da UFMT. Mesmo com a solidariedade dos
amigos do SUS, esperei seis meses para a sua internação, por ser meu
amigo-irmão.
Os
próprios dirigentes do SUS procuram sempre hospitais privados quando necessitam
de um simples atendimento médico.
Assim
é a vida do pobre, honesto e anônimo construtor das riquezas deste Estado na
futura capital do agronegócio.
Gabriel Novis Neves
21-11-2013
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