As
biografias previamente concedidas, a meu ver, anulam em parte a sua veracidade,
uma vez que passam a funcionar mais como uma autopromoção do que propriamente de
um relato verdadeiro sobre a vida do biografado.
Mas,
creio que essa não é a maior discussão, e sim, o desencanto que figuras artísticas
proeminentes, veneradas pelo público, provocam quando assumem, no relato biográfico,
uma opinião que contradiz convicções anteriormente assumidas.
Pessoas
que sempre se manifestaram contra qualquer tipo de cerceamento, seja ele político,
musical, literário ou até religioso, quando se sentem invadidas em sua privacidade,
mudam rapidamente de comportamento e passam a vociferar contra supostos agressores.
Fácil
entender que ninguém é tão seguro assim a ponto de ver com distanciamento os seus
pontos fracos devassados, mesmo sendo figuras públicas.
Criaturas
fazem de tudo para se tornarem conhecidas, inclusive para auferir sucesso financeiro,
mas rejeitam veementemente as consequências desse mesmo sucesso, tais como: exposição
de vida pessoal, maledicência e até mesmo projeções fantasiosas comprometedoras.
O preço vem sempre a galope.
Acontece
que, quando se faz a opção por uma profissão que traz no seu bojo a anulação da
privacidade, deve-se ter em mente que, como seres humanos, imperfeitos que somos,
é impossível passar pela vida com uma postura perene de heróis. Isso é lindo nos
romances de ficção, mas na vida real oscilamos entre heróis e vilões, dependendo
do momento vivido.
Todo
o resto é pura balela, dependendo da maior ou menor autoestima de cada um. Num país
como o nosso, em que a justiça é extremamente lenta, o que realmente preocupa é
o ressarcimento de uma honra denegrida injustamente.
Por
que então não fazer leis especiais que penalizem forte e rapidamente, todos os biografados
considerados injustiçados por seus biógrafos?
Imagino
que essa problemática está bem mais ligada à vaidade pessoal do que às verdadeiras
razões da discussão em curso.
Numa
época em que a privacidade pessoal já foi destruída, não consigo ver motivos para
tanta polêmica.
Por
que maximizar tanto a opinião pública se já nos expomos tanto nas redes sociais,
buscando uma notoriedade rápida a qualquer custo?
Estamos
sempre fixados nos bônus, esquecendo-nos, com frequência, dos ônus que existem em
todas as situações.
Pessoas
com um passado despido de conotações morais constrangedoras, geralmente aparecem
menos, e só os que estão à sua volta tem a real dimensão de sua integridade.
Os
seus atos, coerentes com o seu bem estar pessoal e social, são automáticos e, por
isso mesmo, não despertam nenhum interesse, muito menos para biógrafos sensacionalistas.
Gabriel
Novis Neves
23-10-2013
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