segunda-feira, 4 de novembro de 2013

AINDA SOBRE BIOGRAFIAS

As biografias previamente concedidas, a meu ver, anulam em parte a sua veracidade, uma vez que passam a funcionar mais como uma autopromoção do que propriamente de um relato verdadeiro sobre a vida do biografado.
Mas, creio que essa não é a maior discussão, e sim, o desencanto que figuras artísticas proeminentes, veneradas pelo público, provocam quando assumem, no relato biográfico, uma opinião que contradiz convicções anteriormente assumidas.
Pessoas que sempre se manifestaram contra qualquer tipo de cerceamento, seja ele político, musical, literário ou até religioso, quando se sentem invadidas em sua privacidade, mudam rapidamente de comportamento e passam a vociferar contra supostos agressores. 
Fácil entender que ninguém é tão seguro assim a ponto de ver com distanciamento os seus pontos fracos devassados, mesmo sendo figuras públicas.
Criaturas fazem de tudo para se tornarem conhecidas, inclusive para auferir sucesso financeiro, mas rejeitam veementemente as consequências desse mesmo sucesso, tais como: exposição de vida pessoal, maledicência e até mesmo projeções fantasiosas comprometedoras. O preço vem sempre a galope.
Acontece que, quando se faz a opção por uma profissão que traz no seu bojo a anulação da privacidade, deve-se ter em mente que, como seres humanos, imperfeitos que somos, é impossível passar pela vida com uma postura perene de heróis. Isso é lindo nos romances de ficção, mas na vida real oscilamos entre heróis e vilões, dependendo do momento vivido.
Todo o resto é pura balela, dependendo da maior ou menor autoestima de cada um. Num país como o nosso, em que a justiça é extremamente lenta, o que realmente preocupa é o ressarcimento de uma honra denegrida injustamente.
Por que então não fazer leis especiais que penalizem forte e rapidamente, todos os biografados considerados injustiçados por seus biógrafos?
Imagino que essa problemática está bem mais ligada à vaidade pessoal do que às verdadeiras razões da discussão em curso. 
Numa época em que a privacidade pessoal já foi destruída, não consigo ver motivos para tanta polêmica. 
Por que maximizar tanto a opinião pública se já nos expomos tanto nas redes sociais, buscando uma notoriedade rápida a qualquer custo?
Estamos sempre fixados nos bônus, esquecendo-nos, com frequência, dos ônus que existem em todas as situações.
Pessoas com um passado despido de conotações morais constrangedoras, geralmente aparecem menos, e só os que estão à sua volta tem a real dimensão de sua integridade.
Os seus atos, coerentes com o seu bem estar pessoal e social, são automáticos e, por isso mesmo, não despertam nenhum interesse, muito menos para biógrafos sensacionalistas.

Gabriel Novis Neves
23-10-2013

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