Considerada
a praga do mundo Pós-Moderno, a ansiedade é um dos efeitos colaterais do ritmo
de vida alucinado em que vivemos.
Realmente,
com a radical mudança de valores, era de se esperar que, pela maior intensidade
dos comportamentos competitivos, aumentassem, e muito, o estresse e a
ansiedade.
Acrescente-se
a isso o fato de que as indústrias farmacêuticas incrementaram suas vendas
graças ao aumento de rótulos de doenças da mente em patologias ditas
depressivas, antes definidas apenas como estados de tristeza.
Esses
episódios fazem parte do nosso cotidiano, principalmente nos momentos de
grandes perdas, e é compreensível que seres racionais se abatam,
temporariamente, pelas dificuldades vividas.
A
“caixa da normalidade” está cada vez menor, e a culpa é do excesso de
diagnósticos de doenças mentais, diz o psiquiatra Dale Archer, autor do
bestseller “Better Than Normal”, recém-lançado no Brasil com o título de “Quem
disse que é bom ser normal?”
Archer,
de 57 anos, é psiquiatra clínico desde 1987 e fundou o Instituto de
Neuropsiquiatria em Lake Charles,
Louisiana (EUA). Segundo ele, estamos “patologizando” comportamentos normais.
De
outubro de 2012 a setembro de 2013, o número de antidepressivos e
estabilizadores de humor movimentou mais
de dois bilhões de reais no Brasil, segundo dados da consultoria IMS Health.
Nos
últimos cinco anos, o número de unidades
vendidas desses remédios cresceu em 61%.
Vivemos
num mundo em que é proibido ficar triste, como se pudéssemos, tal como hienas,
sermos portadores de um estado constante de graça.
O
medicamento deveria sempre ser o último recurso, depois de uma longa terapia.
Todos
sabem que não é fácil enfrentar os problemas financeiros, principalmente
aqueles ocasionados pelo descaso político com suas inúmeras injustiças sociais,
as convenções estabelecidas - algumas absurdas -, a solidão afetiva
generalizada, tudo isso somado aos desencontros comuns na vida de qualquer
pessoa.
Assim,
tudo é diagnosticado como ansiedade ou
depressão, e as pessoas são, logo em seguida, fortemente medicadas.
Esquecemo-nos
que não existe paz na natureza.
Os
animais estão sempre em sinal de alerta em função da existência de predadores e
das várias modificações telúricas a que estão sujeitos.
Para
essa ansiedade do viver estamos todos biologicamente preparados.
Por
exemplo: muitas crianças recebem o diagnóstico de hiperativas quando, na
verdade, estão apenas reagindo a um meio hostil e a uma competitividade
exagerada.
Atualmente,
um quarto dos adultos americanos tem uma
ou mais doença mental diagnosticada, segundo o Instituto de Saúde Mental
dos Estados Unidos. Com certeza algo está errado nessa pesquisa, uma vez que
uma gama enorme de comportamentos não pode ser traduzida exatamente como
doença.
Deveríamos
estar mais preocupados com uma sociedade composta por alegres crônicos
alienados e menos com os seres
reflexivos, algumas vezes considerados depressivos, unicamente na tentativa de
entenderem o sentido da vida.
Nós
médicos sabemos bem distinguir a tristeza passageira - sinal de equilíbrio
emocional - dos estados depressivos crônicos, em que se faz necessário o uso de
medicação.
Remédio
não é para alteração humoral, remédio é para doença.
Gabriel
Novis Neves
07-11-2013
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