Circo
já temos bastante. As últimas cenas circenses que assistimos foram as prisões
dos condenados do mensalão. No entanto, o que nos falta mesmo é pão.
Punições
e prisões de figuras exponenciais de todas as grandes nações ocorrem com
relativa frequência, mas não exploradas como espetáculos de circo.
Tudo
é feito dentro de normas rígidas de preservação da moral e dos bons costumes,
sem humilhação ou achincalhe aos, eventualmente, discrepantes.
Dentro
desse espírito teatral, fazemos também com que pessoas, ligadas ao poder, sejam
ridiculamente blindadas no que tange às suas atividades pouco respeitosas com o
erário público.
Câmara
e Senado, democraticamente constituídos, lidam com a dificuldade de estabelecer
o voto aberto quando na votação de perda de mandatos de seus signatários, numa
pura manifestação de corporativismo.
O
nosso Shakespeare de plantão, presente no inconsciente coletivo, transforma ocorrências
mundiais disseminadas, como no caso das espionagens internacionais, em
manchetes catastróficas, como se nós, mero país em desenvolvimento, fôssemos os
únicos alvos.
Agora,
na prisão dos chamados mensaleiros, o mesmo teatro, a mesma necessidade de show
over.
A
sociedade deveria estar, isto sim, muito mais preocupada com o ressarcimento
das grandes verbas desviadas, segundo o julgamento, do que propriamente ao
circo oferecido à população que, aliás, continua duvidando das medidas
punitivas adotadas.
Se
cada centavo subtraído da coisa pública, tivesse que ser multiplicado, e muito,
para ser devolvido, com certeza, pessoas inescrupulosas, que ora permeiam a
política, pensariam bem mais antes de se exporem à humilhação, porque isso não
lhes afeta, mas sim, a perda de todos os seus bens pessoais e familiares.
No
mundo capitalista apenas as dores do bolso são verdadeiramente sentidas como
reais.
Muito
ao contrário, altas personalidades do poder, ainda procuradas pela Interpol,
continuam impunes, exibindo suas riquezas ilícitas nos mais elegantes salões do
país.
Deixamos
que as nossas fronteiras sejam vulneráveis, não só com relação ao tráfico
crescente, mas também para a perpetuação dos “pizzolatas”.
Nossas
crianças são abandonadas pelo poder público e nos transformamos numa nação
mundialmente conhecida pela conivência com o turismo sexual infantil.
Nossas
matas, destruídas ao calar da noite por interesses escusos, sangram sem que
nada aconteça. Notícias fortuitas, aqui e acolá, nos dizem que esses índices
vêm aumentando.
Profilaxia
das inúmeras doenças provocadas pelos esgotos a céu aberto, presentes na
periferia de quase todas as cidades, é substituída pelo clamor hipócrita do
“Mais Médicos”.
Políticas
de segurança equivocadas só fazem aumentar a população carcerária, já
considerada uma das maiores do planeta.
Cidades
importantes, como o Rio de Janeiro, já convivem com taxas assustadoras de
criminalidade, tirando das ruas os seus habitantes, outrora conhecidos como os
mais alegres da terra.
Esquecemo-nos
que no dia-a-dia somos vandalizados por um Estado ineficiente, que apenas serve
para extorquir impostos aviltantes, nada devolvendo em termos de serviços
eficientes para a população.
Para
quem, e para que, interessa tanto circo?
Por
favor, já temos isso demais, o que queremos mesmo é pão, saúde e educação para
todos.
Gabriel
Novis Neves
17-11-2013
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