quarta-feira, 27 de novembro de 2013

Pão e circo

Circo já temos bastante. As últimas cenas circenses que assistimos foram as prisões dos condenados do mensalão. No entanto, o que nos falta mesmo é pão.
Punições e prisões de figuras exponenciais de todas as grandes nações ocorrem com relativa frequência, mas não exploradas como espetáculos de circo.
Tudo é feito dentro de normas rígidas de preservação da moral e dos bons costumes, sem humilhação ou achincalhe aos, eventualmente, discrepantes.
Dentro desse espírito teatral, fazemos também com que pessoas, ligadas ao poder, sejam ridiculamente blindadas no que tange às suas atividades pouco respeitosas com o erário público.
Câmara e Senado, democraticamente constituídos, lidam com a dificuldade de estabelecer o voto aberto quando na votação de perda de mandatos de seus signatários, numa pura manifestação de corporativismo.
O nosso Shakespeare de plantão, presente no inconsciente coletivo, transforma ocorrências mundiais disseminadas, como no caso das espionagens internacionais, em manchetes catastróficas, como se nós, mero país em desenvolvimento, fôssemos os únicos alvos.
Agora, na prisão dos chamados mensaleiros, o mesmo teatro, a mesma necessidade de show over.
A sociedade deveria estar, isto sim, muito mais preocupada com o ressarcimento das grandes verbas desviadas, segundo o julgamento, do que propriamente ao circo oferecido à população que, aliás, continua duvidando das medidas punitivas adotadas.
Se cada centavo subtraído da coisa pública, tivesse que ser multiplicado, e muito, para ser devolvido, com certeza, pessoas inescrupulosas, que ora permeiam a política, pensariam bem mais antes de se exporem à humilhação, porque isso não lhes afeta, mas sim, a perda de todos os seus bens pessoais e familiares.
No mundo capitalista apenas as dores do bolso são verdadeiramente sentidas como reais.
Muito ao contrário, altas personalidades do poder, ainda procuradas pela Interpol, continuam impunes, exibindo suas riquezas ilícitas nos mais elegantes salões do país.
Deixamos que as nossas fronteiras sejam vulneráveis, não só com relação ao tráfico crescente, mas também para a perpetuação dos “pizzolatas”.
Nossas crianças são abandonadas pelo poder público e nos transformamos numa nação mundialmente conhecida pela conivência com o turismo sexual infantil.
Nossas matas, destruídas ao calar da noite por interesses escusos, sangram sem que nada aconteça. Notícias fortuitas, aqui e acolá, nos dizem que esses índices vêm aumentando.
Profilaxia das inúmeras doenças provocadas pelos esgotos a céu aberto, presentes na periferia de quase todas as cidades, é substituída pelo clamor hipócrita do “Mais Médicos”.
Políticas de segurança equivocadas só fazem aumentar a população carcerária, já considerada uma das maiores do planeta.
Cidades importantes, como o Rio de Janeiro, já convivem com taxas assustadoras de criminalidade, tirando das ruas os seus habitantes, outrora conhecidos como os mais alegres da terra.
Esquecemo-nos que no dia-a-dia somos vandalizados por um Estado ineficiente, que apenas serve para extorquir impostos aviltantes, nada devolvendo em termos de serviços eficientes para a população.
Para quem, e para que, interessa tanto circo?
Por favor, já temos isso demais, o que queremos mesmo é pão, saúde e educação para todos.

Gabriel Novis Neves
17-11-2013

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