O hábito
de dar uma pequena cochilada após o almoço - a chamada sesta - foi por mim adquirido
quando pequeno.
Meu
pai chegava do trabalho para o almoço, colocava o pijama de manga longa e calça
comprida e ia para a mesa de refeições com a mulher e a filharada.
Mal
terminava de dar a última garfada, tomava um copo de água do pote, já com o cafezinho
na xícara. Acendia o cigarro e saia pitando rumo à cama, com direito ao sono imediato.
Era
imitado pela minha mãe e por toda a meninada.
Uma
hora depois acordava, rumava ao quintal para o banho de tanque. Saía para o trabalho
e ficávamos fazendo os deveres escolares sob a supervisão da minha mãe.
Às
três horas da tarde era servido o lanche feito em casa, sempre com uma novidade.
"Sonho” era o lanche predileto da turma, mas com leite e mate queimado.
Nesse
intervalo minha mãe prometia que se terminássemos até às cinco horas os afazeres
escolares, ganharíamos uma hora para brincadeiras.
Assim
fui criado e até hoje mantenho esse saudável hábito, que possui certo embasamento
científico.
O sono
pós-prandial tem um efeito recuperador das energias gastas na primeira metade do
dia.
Não
por acaso o futebol é jogado em dois tempos. No intervalo os atletas recuperam,
em parte, o desgaste físico e emocional e, não raro, observamos verdadeiras viradas
no segundo tempo em partidas consideradas perdidas.
Quando
o trabalho é fora de casa, tudo parece a continuação de uma rotina, mas, quando
o serviço é no escritório em casa, tem-se
a alternativa maravilhosa de apreciar o belo.
O céu,
o sol, a chuva, as nuvens, a explosão de cores na linha do horizonte anunciando
o final do dia, são cenas inesquecíveis, verdadeiros prêmios aos observadores das
coisas simples.
Muitos,
nem noção têm da beleza que encobre as riquezas materiais. Aprendi, talvez com a
solidão, a captar muitos desses momentos. É fascinante esperar pelo desconhecido.
Nas
minhas caminhadas encontro tantas coisas bobas, que me faz uma pessoa feliz, embora
por alguns instantes.
Não
precisamos de aparatos especiais para encontrar uma jaca ou uma manga madura nas
calçadas durante a caminhada.
A sesta
propicia aos caseiros conversar com o tempo.
O pensamento?
Ah! Este pode estar distante.
É bom
dormir depois do almoço e, ao acordar, escrever sobre a sesta.
Gabriel Novis Neves
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