É bom
quando somos crianças e pensamos nos presentes que vamos ganhar no dia que comemoramos
o nosso nascimento.
Até
os meus dez anos de idade, quando já entendia que dia de aniversário era para ganhar
presente, chegava da escola, almoçava e ficava na janela do meu quarto esperando
os possíveis doadores.
Tinha
um tio casado e sem filhos que, antes de ir para a repartição, pontualmente às 13h30m,
apontava na esquina em direção à minha casa. Era o sinal que a escrita dos anos
anteriores seria mantida.
Permanecia
comigo o tempo suficiente para que eu abrisse a caixa do mimo e lhe fosse servido,
por minha mãe, o bom-bocado que tanto apreciava.
Logo
saía para trabalhar, e eu voltava para a janela.
Outra
visita constante era uma antiga amiga de minha mãe que, sempre protegida por um
guarda-sol, também era portadora da esperada lembrancinha.
Tudo
para ser programado com luz solar, pois a elétrica faltava com frequência.
A mesa
com o bolo de velas, que só seriam sopradas com a chegada de todos os convidados,
destacava-se no pequeno espaço da sala de nossa humilde casa.
A festa
só acontecia realmente com a chegada do orador oficial dos aniversários, o professor
Ezequiel de Siqueira com sua imensa coleção de cachorros.
Figura
folclórica na cidade. Fazia a criançada vibrar como se estivesse na presença de
um mago das histórias infantis. A sua fala
era a mesma em todas as festas infantis e terminava sempre recitando uma poesia
de autor desconhecido, talvez a mais linda da língua portuguesa pela sua simplicidade
e ensinamentos.
As
crianças daquela geração nunca se esqueceram da sua letra e mensagem: “Batatinha
quando nasce se esparrama pelo chão, mamãezinha quando dorme põe a mão no coração”.
Interpretem
as informações, que muitos adultos desconhecem, como o nascimento das batatinhas,
sem especificar a espécie, e a mãe totalmente despojada de sentimentos materialistas,
traduzidos pelas mãos no coração.
Quando
a gente envelhece o aniversário passa a ser uma ameaça, e não mais motivo de celebração.
Passamos a temer a nova idade que ganhamos
de aniversário. Muitas das nossas fantasias infantis desaparecem. Para fugir da tristeza dessas datas usam-se vários
meios artificiais, por exemplo: os aniversariantes tiram o telefone do gancho e
ficam em casa tal reféns. Estreei, no meu
último aniversário, uma excelente maneira de me presentear: uma ótima viagem não
programada. E gostei. Chegamos numa idade
onde tudo é permitido, inclusive, ser feliz no dia do aniversário.
Gabriel
Novis Neves
16-10-2013
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