ESTRANHA SENSAÇÃO

Sinto uma estranha sensação quando não sei do paradeiro dos inúmeros amigos que conquistei durante a minha vida.

Muitos, com certeza, não estão mais por aqui.

A maioria encontra-se espalhado por esse mundo de Deus, e alguns até perto de mim.

Como é ruim perder o contato com tanta gente que fez parte importante da minha vida!

Vez ou outra sei que um colega de turma partiu, e o nosso último contato foi no dia da nossa colação de grau em medicina em 1960.

Até os companheiros que me ajudaram na implantação da nossa universidade federal em Cuiabá, poucos tenho contato com eles.

Alguns partiram e nem notícias tive.

Outros estão em casa, perderam as suas esposas, são ajudados por cuidadores e não gostam de usar as modernas tecnologias para enviarem as suas notícias.

Conto com os dedos das mãos o número de amigos em Aquidauana, Campo Grande, São Paulo, Rio de Janeiro, Londrina, Washington, Portugal, Dubai e Austrália com os quais compartilho notícias.

Os da minha idade e os mais velhos deixaram gostosas recordações, sem tristezas, mas muitas saudades dos bons e maus momentos.

Os meus contemporâneos que vivem em minha cidade mudaram seus hábitos.

Seus estilos de vida atual são bem diferentes, quando notícias viraram coisa rara.

Será que não existe amizade duradora que ouvia dos meus pais?

A amizade não resiste ao tempo e as distâncias?

Como seria bom abrir antigos álbuns de família ou da formatura e pudesse ligar para essa gente que sei estar por aqui e chamá-los por voz e imagem, para bater um papinho?

A vida não é feita apenas de sonho, mas de realidade também.

Esta é muito dolorosa quando não realizamos os nossos sonhos de poder visitá-los e conversar, mesmo sabendo que se mudaram para tão próximos de nós.

E a eletrola de longe nos faz ouvir um antigo sucesso chamado de “Meu primeiro amor”.

Essa entranha sensação causada pelas distâncias e falta de notícias só aumenta o meu sofrimento na solidão da idade avançada.

Gabriel Novis Neves

11-02-2023