Bem antigamente, provavelmente por herança portuguesa, as donas de casa viviam pintando as paredes internas das suas casas com cores bem diferentes.
Os cômodos das partes íntimas das casas estavam sempre trocando de função.
O quarto, que era dormitório, passava a ser utilizado como sala de visitas.
A sala de visita passava a ser refeitório e a sala de estudos virava dormitório.
Minha casa era grande e os quartos pintados com as cores que a minha mãe escolhia.
Nunca o branco, pois em casa com muitas crianças sujava logo.
Hoje, casas enormes com muitos quartos são pintadas com a mesma cor, geralmente branca, bege, palha, gelo ou amarelo bem discreto.
A medicina condena cores fortes, especialmente em dormitórios.
Existem especialistas na determinação das escolhas das cores dos interiores das casas, geralmente de cor única e bem branda, para não excitar seus moradores e causarem problemas com o sono.
A gurizada da minha época, assim que escurecia, procurava a cama para dormir e só acordava noutro dia para ir à escola.
Fui criado dormindo sempre com a luz do corredor acessa.
Bastava o motor de energia elétrica do “Morro da Luz” pifar e a cidade ficasse às escuras, para toda a meninada acordar gritando.
Mamãe sempre tinha velas, lamparinas e lampiões para essas emergências que eram frequentes nos anos quarenta e cinquenta.
Todos nós sofríamos de claustrofobia.
Não tenho medo do escuro, mas, pavor até hoje.
Tenho que dormir num quarto pelo menos com a luz do número de graus do ar refrigerado ligado.
Como médico sei que é claustrofobia, e quem sofre desse mal tem que se tratar com psicoterapeuta, pois é uma perturbação causada pela ansiedade.
Pessoas com esse mal tendem a evitar: elevadores, divisões pequenas ou sem janelas, salas trancadas, túneis, transportes públicos (especialmente os subterrâneos) ou automóveis.
Nunca procurei um médico para me tratar, e evito dormir no mesmo quarto de pessoa que não deixa nem uma frestinha de claridade entrar no seu interior.
Em janeiro do ano passado, após ter tomado a quarta dose da vacina contra o Covid 19, fui contaminado com o vírus da pandemia.
Fui à São Paulo tomar uma medicação que não curava a doença, mas impedia as complicações do vírus.
Só poderia ser aplicada num único hospital de São Paulo e Brasil, e esse medicamento era de uso endovenoso.
Fui internado no Pronto Atendimento de Doenças Infectuosas dos Pulmões e fiquei no isolamento escuro, sem janelas e minha cama de frente ao corredor onde havia claridade.
Do contrário não ficaria no local do atendimento, de tanta falta de ar que sentiria.
Hoje moro em um edifício que possui motor para os elevadores, e por vezes quando falta a luz, eles automaticamente entram em funcionamento.
Só de ouvir o barulho dos motores, fico tranquilo. Tenho em minha casa pacotes de velas, duas super - lanternas capazes de clarear quartos e outras peças do apartamento.
Uma fica no meu dormitório atrás do aparelho de TV e outra na copa de jantar.
Nunca procurei tratamento médico para essa falta de ar que tenho desde criança e sei o nome da doença (fobia).
Com tantos anos de exercício da profissão médica aprendi que existem doenças que são tratadas e curadas.
Outras que não têm cura e matam.
E um terceiro grupo de pacientes, que são portadores de doenças que têm tratamento e não são curadas.
Alguns têm doenças que não curam nem matam.
Bem antigamente, não existiam médicos em Cuiabá e quando por aqui passavam, eram europeus e pouco conheciam das doenças que nos matavam e aos índios da região.
Em 1808 é criada a primeira faculdade de Medicina, em Salvador, Bahia. Outra em Vila Bela da Santíssima Trindade, antiga capital de Mato Grosso, que logo fechou.
No período da Guerra do Paraguai (1864-1870) não existia médico em Cuiabá.
Durante a invasão dos paraguaios em território mato-grossense, eles tomaram a cidade de Corumbá.
Augusto Leverger (Barão de Melgaço) pediu ao Imperador do Brasil, D. Pedro II, um médico da Marinha Imperial, para acompanhar as tropas comandadas por ele.
Veio um jovem médico brasileiro, formado na faculdade nacional da Bahia, Dr.Augusto Novis.
Enfrentou a cólera e varíola em Corumbá, na retirada dos soldados paraguaios do solo brasileiro.
Retornando à Cuiabá enfrentou a varíola que matava cuiabanos.
Ele era o único médico na cidade de cerca de 20 mil habitantes.
Não voltou para Salvador, constituiu inúmera família e morreu aqui aos 71 anos.
Hoje ninguém mais sai daqui para estudar medicina em Salvador, e a nossa cidade já formou inúmeros médicos baianos de Salvador (Bahia).
Gabriel Novis Neves
12-03-2023
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