É difícil acontecer isso comigo, mas esta semana aconteceu.
Há quatro dias tento fechar uma crônica de cinquenta linhas sobre o cotidiano, e não consigo.
Seu título já mudei três vezes e ela só aumenta de tamanho.
Está com noventa e seis linhas e quatro páginas, atingindo a categoria de “Os Pitorescos”, sempre a mais longa de todas que publico semanalmente.
Tento imitar sem sucesso, alguns cronistas que escrevem frases e brilhantes textos curtos.
Acho o máximo de elegância literária, sendo imbatíveis nesse gênero o pernambucano Antônio Maria e o mineiro Carlos Drummond de Andrade.
Incluiria nessa lista, os capixabas Rubem Braga e Carlinhos de Oliveira.
O carioca Carlos Heitor Cony e o mineiro Paulo Mendes Campos.
Todos trabalharam nos grandes jornais cariocas e paulistas, e suas crônicas eram esperadas pelos leitores com ansiedade.
Tomávamos o café da manhã lendo as crônicas desses gênios, e nos antigos transportes coletivos de bondes, lotações, ônibus, trens.
Tudo era muito longe na cidade grande, e poucos possuíam os seus automóveis.
Na ampla sala do nosso Diretório Acadêmico, tínhamos os principais jornais do Brasil presos em uma tábua de madeira, para que ninguém os levasse para casa.
Que prazer era ler essas crônicas!
Embora estudante de medicina ia para as aulas, e me esforçava em escrever anamneses, bem ao estilo dos meus cronistas prediletos, missão quase impossível.
Os meus professores entendiam o que eu escrevia, e diziam que uma anamnese bem-feita significava setenta por cento da hipótese diagnóstica.
Treinei tanto em escrever crônicas com frases curtas em poucas linhas, que quando o editor do meu blog me pediu que escrevesse o currículo do meu pai e publiquei, foram necessárias apenas dez linhas.
Porém a crônica que enguiçou, mudei várias vezes o seu título, diminui as suas frases e a aproveitei como “Os Pitorescos”.
Um famoso compositor da nossa música popular brasileira, Carlos Colla, dizia que a música boa nasce nos primeiros quinze minutos de trabalho.
Se passar desse tempo, não presta.
Porém, não há unanimidade.
Erasmo e Roberto Carlos, ficaram anos para descobrir uma palavra para terminar a canção: “Sentado à beira do caminho”.
Pixinguinha compôs um chorinho em 1917, e só após vinte anos Braguinha, escreveu a letra do imortal “Carinhoso. ”
O cronista Antônio Maria, costumava ditar seus enxutos textos no fechamento dos jornais, pelo telefone fixo dos restaurantes onde se encontrava.
Carlinhos de Oliveira, de tudo que precisava encontrou na mesa do fundo do bar e restaurante Antonio’s, no Leblon.
Com uma pequena máquina de escrever e uma garrafa de whisky, cedo começava a escrever.
Os funcionários do jornal em que trabalhava, iam lá pegar suas crônicas para a redação dos jornais.
Quando o bar fechava, voltava para casa e retornava assim que o bar abria.
Virou atração turística e como escrevia bem!
Coisa boa também enguiça, tanto na literatura como na música.
É fazer pra crer!
Gabriel Novis Neves
10-02-2023
Machado de Assis, Lima Barreto, João do Rio, Paulo Mendes Campos e Carlos Drummond de Andrade estão entre os cronistas mais importantes da literatura brasileira. |
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