sábado, 29 de abril de 2023

FASCÍNIO PELAS MARMITAS


Não sei porque razão quando criança tinha fascínio pelas antigas marmitas familiares.


Em casa sempre tivemos cozinheiras.


Quando estas faltavam, e a minha mãe não podia substituí-las, o jeito era comprar comida feita das pensões de Cuiabá e transportadas nas marmitas.


Era uma comida que eu achava maravilhosa, mais pela novidade e charme das marmitas que elas despertavam em mim.


Eram de alumínio de boa qualidade, e a da minha casa foi comprada na Casa Orlando.


Migrante italiano, era casado com a Dona Balbina, famosa por sua religiosidade, generosidade e montagem do mais completo e luxuoso Presépio de Natal da velha Cuiabá.


Ficava num sobrado de um casarão na Travessa Voluntários da Pátria, em frente à casa do meu avô Dr. Alberto Novis, próximo à Igreja do Senhor dos Passos.


A marmita da minha casa possuía cinco caixas de alumínio, sendo a tampa da superior também era desse material.


Eram sustentadas por duas hastes paralelas de alumínio resistente.


As pensões tinham entregadores, mas, também podíamos levá-las para serem enchidas.


A caixa de baixo era para o feijão ou feijoada no almoço e sopa no jantar.


O arroz preenchia outra.


Carne, frango ou peixe a seguinte.


Farofas, bananas da terra, batatas fritas, empadinhas e, bem em cima, legumes, saladas verdes e frutas da ocasião.


Basicamente era isso, e o domingo era da macarronada.


Era o dia do almoço ajantarado, quando tudo era mais abundante.


As pensões forneciam também palitos para limpar os dentes.


Até hoje sinto o cheiro da comida das marmitas.


Pena que esse período de comer de pensão era por pouco tempo.


Logo a minha mãe arrumava uma substituta para o lugar deixado pela faltosa.


Meu pai sempre reclamava da comida da marmita, pois era muito enjoado para comer.


Eu adorava esses períodos, e lamentava por passarem tão rápidos.


Nessa época a pensão mais conhecida era dos irmãos Pécora, comandada pelo Gary Péroca, um gordo simpático de família de migrante italiano.


O Gary preparava uma galinhada aos domingos para o jantar em sua casa no Coxipó que era de virar os olhos.


O que seria dos velhos sem essas reminiscências, especialmente quando pode escrever!


Era fascinante o cheiro da comida de pensão das marmitas da Casa Orlando, da rua de Baixo.


Hoje as marmitas de alumínio foram substituídas pelas térmicas ou descartáveis de isopor.


O pedido é feito pelo celular aos restaurantes e entregues pelos motoboys.


O pagamento é feito antecipadamente pelo PIX, ou cartão bancário na maquininha na hora da entrega.


Não há mais o antigo fascínio, e segue a vida moderna sem encantos.


Gabriel Novis Neves

31-01-2023




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