sexta-feira, 8 de dezembro de 2023

QUE OS ANJOS DIGAM AMÉM!


A preocupação nem sempre encarta algum pedaço de aborrecimento. Mas, com certa frequência, traz embutido um tiquinho de chateação para atormentar nossas horas.


Num dia desses, comprei um equipamento novo para meu apartamento. Preocupação minha era saber do seu prazo de validade. Estava à procura da ‘Nota Fiscal’ da empresa quando o técnico me disse que o ‘selo de garantia’, vinha adesivado no aparelho.


‘Nota Fiscal’ tem disto: a gente guarda. Depois não sabe onde. Isso vem a ser o mesmo que perder. Por sorte, ele já tinha fotografado o ‘selo’ e me enviado ao WhatsApp para salvar nas configurações do iPhone.


O ‘selo da garantia’, de igual modo, estava fixado em lugar impossível de perder.


Para acabar com a minha preocupação, o técnico repetiu, vezes seguidas, que o prazo de validade do equipamento era de vinte anos. Não acreditei!


Sumiu-me a preocupação. Aliás, transformou-se em extrema alegria. Por estar no topo, com 88 anos, penso incluir na partilha dos bens para meus filhos. Imagine se não tem pretendentes!


Pela primeira vez na vida, adquiro um bem móvel. E saber que deixarei como herança, em boas condições de funcionamento! Não me assaltam dúvidas quanto a isso.


Falemos bem baixinho. Que ninguém nos ouça: chegar até os 108 é pouco provável! Mas nada que aos Céus não caiba decidir.


Outra preocupação que me ataca, bem rebelde, é com o prazo de validade no tocante a meu coração. Deixo que o cardiologista disso cuide!


Há bem anos, fui submetido a implante de marca-passo. A finalidade era tratar de uma arritmia cardíaca.


Daí para cá, o cardiologista afere, duas vezes ao ano, o prazo de validade da pilha do aparelho. Ainda tenho bateria para algo em torno de cinco anos. Invade-me a convicção de que meus anjos — tenho mais que um, não sou bobo! — haverão de autorizar a troca da bateria.


A prótese da válvula aórtica que trago carinhosamente no coração — embora tão moderna —, o fabricante não sabe informar o prazo de validade. Vá entender!


Faço controles ambulatoriais bianuais com o cardiologista de imagens. Competente, me acompanha desde o início de minha doença. Nos últimos exames — isto é dele —, meu coração cadencia a bom passo. 


Sei muito bem: é verdadeira ‘usina elétrica’ com fios, parafusos, ‘artefato’ e bateria. Você vai longe! É o que me assegurou na última consulta.


Em razão disso tudo, tenho comigo que a preocupação nem sempre traz, em sua bagagem, tostões de aborrecimento. Que meus anjos me digam amém!


Gabriel Novis Neves

19-11-2023



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