quinta-feira, 14 de dezembro de 2023

ARES DE DESPEDIDA


Acredito que se trata de um sentimento comum, que nos atropela a todos que vêm de longa caminhada.


Fui à homenagem que os egressos do curso de engenharia civil prestaram a seus professores, de modo especial aos pioneiros.


Ambiente de incontida saudade para mim, dada a ‘ausência-presença’, de muitos colegas da primeira hora. Meu íntimo estava a proclamar que todos eles ali estavam.


Tão carinhosa foi a recepção, que, em alguns instantes, tive até a impressão de ‘estar sendo ovacionado’.


As fisionomias dos presentes não me enganavam. Com o avançar dos anos, mudamos tão só nossa aparência física. A essência, esta fica. Aliás, gritava, estampada em seus olhos.


Reforço: o carinho é o mesmo de cinquenta anos atrás. Percorrendo esse cenário saudosista, um filme passou em minha mente, como se de novo ali se ambientasse.


Invadiu-me uma estranha sensação: a de que aquela grandiosa confraternização seria como que ‘minha despedida’, em relação a eles.


Os engenheiros — isto lhes é próprio — entendem muito de matemática. Será que tudo que eu via e sentia, não seria minha despedida em termos ‘matemáticos’? Quantos de nós se farão presentes na próxima comemoração?


Deitei meus olhos — já bem cansados — na expectativa de encontrar muitos que deveriam estar ali. A alguns, procurei em vão.


Cheguei a me perguntar: por que me atribula tal sensação de despedida, misturada com um momento tão feliz?


Que dizem os deuses deste meu queixume? Tudo que nos toca a alma, nos convida a dar sequência. Findar o que nos sensibiliza é o fim! Bem por isso, como dói a separação de pessoas que amamos?


De novo fui assediado por outro pensamento: gostaria — tão prazerosos estavam aqueles momentos — que a festa não findasse.


Naquele espaço, vi passar o melhor dos meus dias, embalado pelo frescor da juventude. Bem ali, associado a companheiros de ideal, corri atrás de um sonho, certo de que, um dia, seria realidade!


Minha saudosa mãe, lá onde se encontra, parece me querer dizer o que dizia, em tom de brincadeira, às pessoas da minha idade: ‘Cuide-se: você está dobrando o cabo da Boa Esperança’.


Seja como seja, a mim me transpirou uma sensação de até logo.


Ousei consultar uma médica psiquiatra sobre esse intrometido mal-estar. Estranho que ele aflorou precisamente num momento de alegria plena. Talvez a medicina me pudesse ajudar.


Ela me ponderou que esse sentimento é próprio dos que põem toda sua alma e empenho no que fazem. 


Creio tenha razão. Afinal, investi tudo o que de melhor guardava, em um projeto que, hoje, já ultrapassou as bodas de ouro: cinquentão.


Disse-o bem: ‘bodas’. Os que compramos essa colossal iniciativa, não só a namoramos perdidamente, mas com ela nos casamos. Um misto de dedicação e muito afeto.


Os aplausos soavam como uma ‘ovação’. Todos os que apadrinharam essa ideia, estão a merecer palmas.


Mas a ‘estranheza’, ainda que tenha encerrado a festa, perdura. Foi um dilúvio de sensações! Aliás, condizente com a trajetória da UFMT!


Gabriel Novis Neves

9-12-2023




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