terça-feira, 26 de dezembro de 2023

MELANCOLIA NÃO TRAZ PÃO, NEM TESÃO, NEM AMORES


Não sei qual a razão: só sei que fico melancólico no mês de dezembro. Convenhamos: não condiz com as festas e congratulações que ocorrem. É o mês em que as famílias se reúnem para festejar o nascimento de Cristo e o Ano Novo.


Desde a minha mais tenra idade, estendendo-a aos tempos de estudante no Rio de Janeiro, neste mês eu me sinto desamparado. E pensar que, em dezembro, se evocam significados que nos encantam!


O trauma do vestibular e, na mesma toada, os concursos que enfrentei — sempre no mês seguinte a dezembro —, talvez possam ser a causa que tenha desencadeado em mim toda essa carga de tristeza.


Diga-se em tempo: não padeço de depressão. Essa até que poderia ser a causa médica desta angustia que me sufoca.


O mês de dezembro, a meu ver, muito se aproxima de uma noite mal dormida, quando, no dia seguinte, nada está bom.


Vem-me à lembrança, nessas ocasiões, a figura do meu pai, atabalhoado com a clientela que, nessa época, em muito se agigantava. Bendigo o ter sido premiado com uma saúde de ferro!


Como deixar cair no esquecimento o lindo rosto de minha mãe, cativando simpatias! Em tempo algum fugia à responsabilidade que a vida sobre ela despejou. Queixar-se não era dela.


Dos meus oito irmãos, cada um com seus sonhos. Muito parecidos na fisionomia: espelhados um no outro. A nós se amolda o que corre no interior: ‘cara de um, focinho do outro’.


Das etapas vencidas e perdidas, grifando a ausência, sempre plena de dor, de meus pais, de minha mulher, irmãos e cunhado.


Somos de uma família longeva. Vê-se, no entanto, que os jovens vêm sendo substituídos por idosos.


‘No virar do ano’, o primogênito deste clã estará rondando os noventa anos.


Significa isso que vivemos um dezembro de idosos, pondo na balança os riscos que eles trazem na bagagem.


E chegam lombinho de porco, tênder, carneiro, bacalhau, peixe, farofa com frutas, lentilha, arroz à grega, rabanada, panetone, uvas, romã, damasco, pêssego, figo, avelãs e tâmaras. Como dispensar esses paparicos?


Tenho tudo para me alegrar — isso não ignoro —, mas a melancolia me avassala neste período em que tudo, à minha volta, vem embalado por maravilhas mil. É a vida repleta de surpresas. Tantas que — eu chego a pensar — até Deus duvida!


O mês de dezembro se curva ao dinheiro, décimo terceiro salário, comércio recorde em vendas. Registre-se o aumento dos postos de trabalho temporário! A tanto, somam-se os balancetes de empresas com lucros estratosféricos.


Não é que a aviação comercial abre novos voos para atender à demanda dos hotéis que chegam a dispensar hóspedes, tão lotados estão!


É gente que vai e vem, dando vazão a novos compromissos, impelidos por justificativas outras.


O ano vai se despedindo aos poucos, mas minha cabeça fica ‘zuindo’ com tanta coisa que embarca em dezembro.


Continuo a me indagar do motivo. Talvez o mês se revista dessa embalagem de tristeza porque paira uma pá de coisas que não deve se misturar com o essencial.


Quer mesmo saber? No mês de dezembro o universo conspira para que tudo se cadencie ao bimbalhar dos sinos, anunciando o nascimento de ‘Jesus’.


Neste mês, Ele — somente Ele —deve magnetizar nossa atenção e nosso carinho!


Gabriel Novis Neves

11-12-2023







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