domingo, 3 de dezembro de 2023

O RISCO DE ESCREVER


Quem escreve diariamente crônicas sobre o cotidiano, corre o risco de expor, publicamente suas ideias, até então muito bem guardadas nos esconderijos das sinapses cerebrais.


A intimidade criada entre o escritor e o leitor é zás-trás. Muito rápida mesmo. O leitor passa a conhecer aquilo que pensa o cronista, bem mais do que ele supõe.


Essa promiscuidade entre o escritor e leitor faz bem a ambos.


Funciona como uma psicanálise de efeito duplo, quando um ajuda ao outro.


O cronista, para melhorar sua redação, briga com a gramática da língua portuguesa, tão complexa para ser utilizada sem erros.


Resultado disso é que o leitor pode se deliciar com textos corretos e criativos.


Daí decorre a importância dos comentários dos leitores no tocante às crônicas que leem.


Escrevo coisas simples — os amigos-leitores são disso testemunha —, sem presunção de ser literato.


Meus textos são de frases curtas, não rebuscadas, no geral tendendo a ser bem-humorado. A isso chamo de crônicas.


Para Guimarães Rosa, o Fernando Sabino era um ‘fazedor de biscoitos’.


Fernando Sabino, de sua vez, sabia que Guimarães era um construtor de ‘pirâmides’.


Sempre tive especial apreço aos textos leves e simples de Fernando Sabino.


Longe, bem longe dele, estavam os volumosos e densos livros, que tanto vêm ao gosto dos acadêmicos.


Fernando Sabino escreveu livros, sim, mas foi um grande escritor de crônicas narrativas, em jornais, revistas e pasquins.


Foi assim que se consagrou como um dos dez melhores cronistas do Brasil.


Quando me enveredei pelo gênero literário da crônica narrativa, passei a limpo a minha biografia, enfatizando o cotidiano da vida de um médico do interior.


Pus no papel — ou melhor, no computador — a minha numerosa família, pessoas, personagens e detalhes de uma pequena cidade.


Fatos históricos recentes — como a criação da UFMT e a divisão territorial de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul — foram relatados no blog proposto por meu editor: bardobugre.blogspot.com.


Fui andarilhando de rua em rua, de beco em beco, andei por travessas e praças, motivo de inspiração para muitas crônicas que andei publicando.


As ruas são uma fonte inesgotável de temática, rica de ideias, e esse período me levou à lesão dos joelhos, em razão do já adiantado dos meus dias.


Continuo escrevendo em casa, sempre pensando nas ruas da cidadezinha querida que continua, generosa que é, dando aconchego a mim e aos meus.


Escancarar a minha paixão pelas coisas desta cidade, eis o risco que corro. Mas que vale a pena, isso vale!


Gabriel Novis Neves

12-10-2023











































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