sexta-feira, 1 de dezembro de 2023

AS DIVAS BRASILEIRAS


Um dos meus netos instalou, em minha TV, um canal pago por assinatura. Agora, posso assistir aos documentários e filmes em um aparelho conectado à internet.


À noite, com ajuda da minha enfermeira, fui bisbilhotar a novidade.


Não lhes posso omitir: tenho um fraco desmedido por comédias e musicais.


Depois de muito especular, pois as ofertas são fartas — me arrisquei a uma comédia musicada brasileira.


O nome era sugestivo: ‘As divas’.


O filme tinha como estrelas os primeiros travestis brasileiros, quando a repressão aos homens, que gostariam de ser mulheres, era dominante. Em tempo: isso era considerado caso de polícia.


Nos anos oitenta, os travestis do Rio chegaram ao apogeu, tidos por artistas. Eram capa das revistas mais importantes do país, matéria de destaque nos jornais.


Cantavam e dançavam muito bem nos palcos do teatro Rival na Cinelândia, galeria Menescal e Posto Seis, em Copacabana.


Desfilavam como destaque nas Escolas de Samba, na Sapucaí. Faziam shows nos chamados ‘inferninhos’, pequenas boates em Copacabana, com topless. Um delírio aos presentes!


Muitos trabalhavam em salões de beleza, como cabelereiro, manicure e maquiador facial.


No filme todo, os travestis da noite relatavam sua sofrida vida. Enfrentaram um mundo de preconceitos e revelaram persistência para vencer, dada a escolha que fizeram.


Um pontuou que pertencia à classe média. Morava na avenida Atlântica, Posto 4. O sonho de sua mãe residia nisto: que fosse diplomata.


Sempre usou roupas de homem e se transformava em atriz e cantora, no camarim do ‘teatro de bolso’.


Usava perucas, unhas pintadas, batom e saliente maquiagem. Sapato feminino, de salto alto, para dançar.


A pioneira foi a Rogéria, denominada a ‘travesti da família brasileira’.


Trabalhou e foi dirigida por atores e atrizes famosos.


Estrelou espetáculos na ‘chiquérrima’ boate ‘Scala’, no Leblon, com escritos de Sérgio Porto, o Stanislaw Ponte Preta, das 10 mulheres mais certinhas do Brasil.


Curtiu temporadas em Paris, com outras colegas.


O filme todo é sobre os pioneiros. Nem uma palavra sobre os dois mais famosos travestis brasileiros.


São casados e vivem na Europa: Roberta Close e Leonardo Cerezo, filho de Toninho Cerezo, ex-jogador de futebol.


A nova identidade de Leonardo é Lea T, modelo profissional.


Roberta e Lea foram os pioneiros na cirurgia para mudança de sexo.


Até então, corria o pensar de que o nome ‘divas’ fazia referência apenas a certas cantoras de óperas, ao modo de Maria Callas.


Enganei-me redondamente com o título. As divas do Brasil eram bem outras!


Gabriel Novis Neves

15-8-2023




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