terça-feira, 12 de dezembro de 2023

HISTÓRIA DE FÉ RELIGIOSA


O dia amanheceu com o Sol encoberto por nuvens. Mas não me parecia um ameaço de chuva. Era uma leve brisa, claro convite a não usar, tão logo acordasse, o ar-condicionado.


Feriado. Festa da Imaculada Conceição. Sou-lhe devoto: é padroeira da família Novis, devoção trazida da Bahia. Isso nós devemos a meu bisavô Augusto Novis.


Dia de recordações plenas e de saudades para mim. Foi num oito de dezembro, no já distante 1942, que recebi, da primeira vez, o sacramento da Eucaristia.


A minha professora da catequese era a mesma da alfabetização — a ‘santa’ professora Oló! Muitos lhe devem muito!


Na tarde anterior ao dia da minha primeira comunhão, fui me confessar na Catedral Metropolitana, na Basílica do Senhor Bom Jesus. Lá estava a professora Oló, a nos receber e instruir para a confissão primeira.


Terminado o ato de fé religiosa, ela nos orientou a voltar para casa. Coisas da época, pediu que jantasse cedo e, na manhã seguinte, escovasse os dentes com todo cuidado. Intuito era que não engolisse água. O jejum para receber a Santa Eucaristia deveria ser total.


Ao chegar em casa, na rua de Baixo, tomado de alegria, fui abraçar minha mãezinha, que me perguntou se tudo tinha corrido normalmente.


Eu respondi que sim, mas tinha me esquecido de confessar ao padre dois pecadilhos. Ela me pediu que retornasse à Igreja.


Correndo, logo encontrei a professora Oló, que me foi perguntando: o que houve?


Disse-lhe que havia esquecido de confessar dois pecados. 


A tanto, retrucou ela: Quais?


Não era do meu feitio deixar de dizer a verdade. Ainda mais para ela. Professora — lhe disse —, às vezes tenho ‘preguiça’ e sou um pouco ‘guloso’.


Ela me abraçou e pediu que rezasse um pai-nosso e três ave-marias. Depois completou: não precisa de nova confissão, meu bom menino.! Volte para casa e não peque mais! 


Aos olhos de hoje, intuo que essa mulher, ainda que simples, já estava à frente do seu tempo. Que sábia era!


Acordei cedo na bela manhã de 8 de dezembro de 1942, sabendo estar construindo a minha história. Jamais iria me esquecer dessa data.


E eu, todo garboso: terno branco, com calças curtas. Camisa de mangas compridas, gravata, sapatos e meias brancas. Uma vela branca acesa, durante a missa conduzida na mão direita.


Terminada a missa festiva, toda a família Novis foi almoçar na casa do meu avô Alberto Novis, na rua Voluntários da Pátria, próxima à rua de Cima.


Devoto que era da Imaculada Conceição, herdou dos seus pais a imagem da Santa.


No trajeto de retorno à nossa casa, minha mãe quis registrar aquele dia: fez questão de que eu fosse fotografado no Studio Mitu, com o vestuário da minha 1ª comunhão.


Depois de breve descanso, vieram os preparativos para a procissão da Imaculada Conceição.


Antes de viajar para o Rio de Janeiro, pretendendo cursar Medicina, minha mãe — como não faria isto? — me levou ao oratório de Nossa Senhora da Conceição, na casa do meu avô. Fui me despedir dela. Pedi não só sua bênção mas, por igual, sua proteção.


Recordações ao feitio dessas, como apagá-las?


Gabriel Novis Neves

8-12-2023




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