Há bem tempo, escrevi um texto em que mencionava a dificuldade que tinha em fazer ‘crônicas sob encomenda’.
Na ocasião, fiz alusão ao fato de que, caso fosse jornalista profissional, não me afeiçoaria a trabalhar em jornais e revistas com matérias pautadas.
Encaminharam-me algo difícil de atender. Não poderia negar: veio-me o pedido de uma ex-cliente, cujos partos realizei na Maternidade de Cuiabá, pelos idos de 1970. Uma de suas filhas, que é enfermeira, me atende há cinco anos.
Curioso é assinalar que essa filha veio ao mundo no mesmo dia em que nasci.
A última vez que vi essa amiga foi na sala de partos. Ela continuou a acompanhar meus passos, acentuando a todos que eu aparei algumas de suas crianças. Mais: tem muito orgulho de tudo que faço.
No momento, possui um frequentado ‘salão de cabelereiro’ no bairro CPA IV.
Sei bem: é lugar ideal para jogar conversa fora. Sempre que lhe chega uma freguesa nova, vai logo dizendo que uma de suas filhas trabalha comigo. E ostenta isso como um troféu!
Muitas delas, por me conhecerem, levam a conversa ao longe. Algumas há que também atendi na Maternidade de Cuiabá.
Ligam seu celular ‘na voz e imagem’ para mim. Aí, vão rememorando fatos passados de que elas não se esqueceram. Nem sempre deles me recordo. Mas me é prazeroso ouvi-las.
Trazem histórias fantásticas dos partos que fiz, detalhando aquilo que disse a elas na oportunidade.
Como é belo o entardecer quando guardamos, vivas, amizades nascidas nas salas de parto!
Não querendo — mas já fazendo propaganda do ‘salão de cabelereiro’ da Berê, minha amiga longínqua —, recomendo que todas as mulheres dos bairros periféricos a procurem.
Não têm preço as histórias contadas por ela, inclusive para ex-alunas e servidoras de nossa Universidade Federal de Mato Grosso.
Temos um encontro marcado no seu ‘salão de beleza feminina’. Quer que ocorra no horário de maior movimento.
Espero tão só que os deuses da longevidade façam o ‘tempo’ melhorar. Haverei de conseguir uma boa cadeira de rodas para esse encontro tão desejado!
Alimenta-me uma certeza quase plena de que, pela primeira vez, consegui escrever uma ‘crônica’ que fosse ao encontro de um pedido.
A coração de amigo não se engana! Muito a propósito, vem-me esta pérola do sempre iluminado Mário Quintana: ‘A amizade é um amor que nunca morre’.
Gabriel Novis Neves
27-11-2023
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