Bem antigamente, no período das férias escolares, quem acordava com preguiça, tinha que se levantar da cama, tomar o café e ficar agachado na porta da rua da minha casa para ver o pessoal passar.
Criança deitada na cama significava estar doente, e o tratamento caseiro era tomar um vidro de óleo de rícino.
Que remedinho ruim esse tal de óleo que éramos obrigados a tomar na nossa infância!
Como a minha mãe tinha muitas crianças com idades aproximadas, ela aproveitava e fazia uma rodada completa com o tal óleo milagroso.
Hoje não sei se ainda é fabricado o tal de óleo de rícino.
Em mais de sessenta anos de profissão nunca receitei ou soube do seu uso.
São coisas de bem antigamente.
Quando os primeiros dentes nasciam em uma criança, chamavam de “primeira dentição”, e que iriam cair depois dos seis anos.
Eram chamados de “dentes de leite “, e sua queda poderia ser natural, sem dor, muitas vezes com a criança brincando ou mesmo dormindo.
Em caso de dúvidas, se engoliu ou não o dentinho, a mãe vigiava as próximas evacuações da criança.
Era uma alegria na casa quando ele era encontrado.
Esse era guardado e não jogado no telhado como de hábito.
Eu arranquei os dentes de leite, dos meus filhos, netos e agora bisnetos.
É um procedimento indolor quando o dente está mole, pois estes não têm raízes.
Também os pequenos têm que ter confiança em quem for pegar com o polegar e indicador o dentinho, e numa puxada, o colocar em suas mãos.
Não sangra e a recomendação é apenas chupar picolé.
Os dentes que nasciam no lugar dos dentes de leite, eram chamados de “dentes definitivos”, ou seja, para o resto da vida.
Bem antigamente, toda atenção era pouca para não perder o novo dente para a cárie dentária.
Hoje sabemos que a cárie é causada por uma bactéria.
A prevenção dentária se inicia quando o dente de leite ainda não rompeu a gengiva, e melhorou e muito a saúde bucal da população em geral.
É um programa de saúde pública, que deu ótimos resultados no Brasil.
Meus filhos, netos e bisnetos nunca tiveram cáries dentárias.
Minha enfermeira, que mora em bairro periférico, tem excelente saúde dentária e suas duas filhas também.
Bem antigamente, conheci o meu avô, pai e mãe muito nova com dentaduras, feitas por protéticos.
Bem antigamente, era costume jogar os dentes de leite que iam caindo da arcada dentária infantil no telhado das casas acompanhado da seguinte quadrinha:
“Ratinho, ratão
Leva esse dente
E traga
Outro. “
Hoje o dentista joga no lixo.
Bem antigamente, após a caída do primeiro dente de leite, minha mãe nos obrigava a tomar diariamente uma colher de sopa de calcigenol irradiado no almoço e no jantar.
Era para os dentes permanentes crescerem fortalecidos pelo cálcio.
Hoje, nem gosto de ver o vidro do cálcio.
Bem antigamente, os garimpeiros usavam dentes de ouro e eram chamados de “homens de boca de ouro”, sinal de status econômico.
Era chique usar obturações e dentes de ouro.
Desconheciam a técnica do implante e clareamento dentário.
Hoje jogadores de futebol famosos e ricos, como Ronaldo Fenômeno e Ronaldinho Gaúcho, fizeram plástica dentária mudando as suas aparências.
O pintor do edifício onde moro gastou uma “nota preta” para aumentar o tamanho dos seus dentes e clareá-los.
O pior pra ele é que ninguém notou a sua estética, obrigando-o a chamar atenção para seu embelezamento e dizer o preço que isto lhe custou.
Hoje os bons odontólogos evitam ao máximo trabalhar com esse metal, procurando outros semelhantes a cor natural do dente.
Bem antigamente, todos os moradores de Cuiabá, tinham guardados em suas casas pepitas de ouro, até as crianças.
Estas colhiam nos dias de chuvas no córrego da Prainha e vendiam nas joalherias para comprem brinquedos.
Hoje o ouro é comprado em barrinhas em lojas autorizadas pelo governo.
Bem antigamente, não era coisa boa sonhar com dente.
Tinha a simbologia de falta de confiança e sensação de incapacidade de ser feliz.
Hoje sonhar com dente se transformou em pesadelos pelos preços exorbitantes do tratamento.
Gabriel Novis Neves
28-05-2023
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