Estamos a menos de um mês do inverno e o calorão nos atacou violentamente em todo o outono que está terminando.
Nem uma leve “mudança de ar” para retirarmos dos armários casaquinhos leves de outono.
Tenho um casaco branco de lã fina feito pela minha mãe.
Ganhei de presente para usar no dia do meu aniversário em julho, quando costuma fazer frio.
Isso foi há vinte anos, e o tenho como troféu de amor de mãe, e só é retirado do guarda-roupa por ocasião dos raros e curtos dias do inverno cuiabano.
Minha mãe era uma artesã e adorava brincar de “fazer artes”.
O único filho que a seguiu foi o Pedro, um quase artista completo.
Minha mãe e Pedro “pintavam o sete”, ambos com grande conteúdo de criatividade.
As festas juninas, as mais alegres das festas religiosas, considero como as das famílias, pois eram realizadas nos antigos quintais das casas cuiabanas.
Todos vestiam as roupas típicas juninas.
As mulheres usavam vestidos de chitas bem rodados, tranças nos cabelos, ou chapéus enfeitados com flores, pintinhas nas bochechas.
Os homens usavam calça com remendos, camisa xadrez, chapéu de palha e um bigode feito de carvão.
Maquiagens especiais imitando gente da roça (jeca) e músicas próprias para as danças juninas.
Os inúmeros jogos de brincadeira, como “a finca faca” na bananeira de olhos vendados, e a sua retirada para a leitura do nome do futuro namorado ou namorada.
Esse nome poderia também ser do futuro esposo ou esposa.
O casamento caipira, com padrinhos e madrinhas cantando e dançando pelas trilhas enfeitadas dos quintais.
Olhar no fundo do poço para tentar ver o rosto da nossa namorada ou namorado.
Eu nunca li nada escrito na faca da bananeira ou enxerguei rosto no fundo do poço.
Para minha tristeza muitos liam e viam, juravam!
A dança da quadrilha com a troca de casais, barraca do beijo e até beijo roubado.
Fogueira, a “barraca da pescaria” quando pescávamos os prêmios da festa.
A brincadeira de andar descalços nas brasas da fogueira sem queimar os solados dos pés.
Batata e milho assado, pipoca, quentão, pé de moleque, queimadas de rapadura enroladas em tiras de papel branco, pamonha, curau.
Bolos de milho típicos da festa, muito apreciados pelos caipiras, assim como arroz doce e cocada.
Todos as variedades de fogos de artifício, das estrelinhas aos rojões e traques.
O hoje proibido espetáculo da “soltura dos balões”, quando a lua, as estrelas e os inúmeros balões iluminavam o céu.
A bandinha de música onde o sanfoneiro não podia faltar, a lavagem do santo no rio ou córrego e muita alegria, numa grande confraternização.
Assim eram as festas juninas da minha época de criança na minha pequeninha Cuiabá.
Essa tradição de manter as festas juninas da Cuiabá sem quintais ficou por conta das nossas escolas e das inúmeras chácaras que circundam nossa cidade.
Tudo com muito calor!
Gabriel Novis Neves
25-05-2023
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.