Sentado em uma confortável poltrona hospitalar, esperava o tempo lentamente passar enquanto observava correr em minha veia cinquenta gramas em cem mililitros de imunoglobulina.
Como faço esse procedimento há dois anos, e não tenho reação alérgica ao produto, calculei que o meu tempo de permanência nesse setor de saúde seria de quatro horas.
Planejei o que fazer nesse período, e resolvi tirar uma dúvida, mas que era uma “quase “certeza para mim.
Queria provar com números o percentual de pessoas solidárias com as outras.
Enviei via “listas de transmissão” do meu celular, para três grupos de amigos, perfazendo um número pouco inferior a quatrocentas pessoas, uma crônica inédita minha e aguardei as respostas.
Poucos fizeram algum tipo de comentário.
Esperei mais algum tempo e encaminhei quatro fotos do meu jardim tiradas pela minha funcionária que molhava as plantas.
Um grupo bem maior compartilhou a beleza das cores das flores.
Finalmente, meus amigos receberam uma foto minha que a enfermeira documentou no procedimento médico ambulatorial.
Meu celular não parou de disparar.
Era gente querendo saber detalhes desse tratamento, me aconselhando a tomar cuidado com a minha saúde.
Senti-me muito confortável com essas demonstrações de gente preocupado com gente.
Ficou provado que o brasileiro é solidário na doença, e não apenas no câncer como acreditava Nelson Rodrigues ou Oto Lara Resende.
Fiquei surpreendido, no bom sentido, com a reação da maioria dos meus amigos, que diante da beleza das plantas criadas por um ser superior e a literatura, se preocuparam com o bem-estar do próximo.
Mesmo satisfeito em tirar as minhas dúvidas sobre o comportamento humano, cada vez as pessoas mais se odeiam e as guerras são mais frequentes.
Nasci durante a Segunda Guerra Mundial de triste memória, com milhares de mortes.
De lá até os nossos dias, as guerras continuaram em várias partes do mundo, num derramamento inútil de sangue de inocentes.
O Brasil participou da guerra na Europa contra o nazi-fascismo e muitos dos nossos pracinhas tombaram em campos de batalha da Itália.
Diariamente enfrentamos em todo o território nacional a guerra contra o crime organizado, do tráfico de drogas até de mulheres para a prostituição internacional.
É uma guerra sem fim que assistimos sem poder fazer nada para mudar essa situação, com nossos governantes cada vez mais distantes do povo e indiferentes ao seu sofrimento.
O pior é que o povo que os elegeu dança ao som da música “do quanto pior a situação, melhor”.
Gabriel Novis Neves
07-06-2023
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