O primeiro dia do ano sempre foi de calmaria no Bar do Bugre.
Na ocasião, meu pai importava da Europa vinhos finíssimos, licores apreciados e, como não podia deixar de ser, o verdadeiro uísque escocês de varias marcas. O predileto do meu pai era o Old Parr! Como alternativa tinha o Chivas e o Johnnie Walker. O vinho que levava para o almoço do primeiro dia do ano era o Ramos Pinto Lágrima de Cristo.
O balcão de madeira e “frente de vidro” que ficava na parte anterior do suporte da Caixa Registradora comandada pelo meu pai, ficava lotado de produtos importados, assim exibidos à clientela.
Encontrávamos deliciosos chocolates suíços, caixas de biscoitos amanteigados da Dinamarca, queijos franceses, presuntos italianos e até produtos para o carnaval próximo, como tubos de vidros de lança-perfumes, confetes e serpentinas.
A sorveteria anexa ao salão principal do bar se integrava ao estabelecimento e se comunicava por uma porta bem alta, onde eram penduradas, na sua parte central, pequenas tabuletas de madeira, com os nomes dos mais variados tipos de sorvetes.
O leite para a sorveteria vinha da chácara do “seo” Mário Esteves, em latões de 20 litros, transportados em charretes ou carroças e deixados em nossa casa da "rua de Baixo". Depois de fervido, nata e leite eram levados em vasilhas diferentes para a máquina da sorveteria e transformados nos sorvetes de nata e leite. A baunilha eu comprava no armazém do “seo”’ João Gomes, pai do General Dilermando, no Baú. Côco, limão, laranja, abacaxi eram comprados de “verdureiros” que vendiam na porta do bar. Chocolate e groselha papai tinha no almoxarifado. O leite, às vezes era queimado, para produzir o delicioso sorvete de leite queimado.
Na sorveteria existiam mesas para acolher aqueles clientes que fugiam da aglomeração do salão principal.
Os picolés dos mais variados sabores em formatos arredondados e quadrados tinham como principais clientes os alunos das escolas próximas e jovens, após assistirem aos filmes do Cine Theatro Cuiabá.
A sorveteria do Bar do Bugre tinha a sua “caixa” própria, que era uma gaveta. Várias vezes por dia era esvaziada e o dinheiro era conferido e depositado nas gavetas da Caixa Registradora do bar.
Depois a “féria” excedente à reserva para troco era levada para o cofre do “escritório”, que funcionava atrás do armário de bebidas.
O salão principal, no primeiro dia do ano, após os dias movimentados das festas Natalinas e 31 de dezembro, como que de “ressaca”, atendia aos seus fregueses de sempre que iam lá “bater o ponto”.
Outros passavam para comprar cigarros e bebidas e uma ou outra “tentação” importadas que ficavam visíveis no armário de “frente de vidro” para levar à família, em casa.
À noite, o bar fechava no seu horário habitual de nove horas (21:00h), e nessa noite papai ficava em casa.
Gabriel Novis Neves
24-12-2021
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