Desconhecido pelas gerações novas. Seu prédio foi abandonado e está prestes à ser demolido, dando lugar ao Largo que se pretende construir na atual avenida da Prainha, em confluência com a avenida Coronel Escolástico. Ficava na vizinhança das casas da “ilha da bananeira”, onde pretendem construir a Praça do Rosário.
Na minha época de adolescente, esse bar, que então funcionava na “área suburbana” de Cuiabá, foi muito famoso pelos seus bailes de carnavais e festas juninas.
O Beco do Candeeiro ficava separado do Bar Colorido por pequena ponte sobre o córrego da Prainha, atrás da igreja do Senhor dos Passos.
O Bar Colorido era instalado em um casarão pintado de azul, com amplas janelas e portas.
Era ornamentado por bandeirolas por ocasião das festas e, representava a vida noturna do baixo meretrício.
Possuía salão de baile, “boate”, quartos para encontros clandestinos, separados por paredes de panos, tipo biombo que iam até certa altura suficiente para não devassar o que estava acontecendo no cômodo do lado, mas ouvia-se e deduzia-se tudo.
Os colchões eram bastante confortáveis: o pano era “chitão”, recheado de capim de “primeira qualidade”.
O Bar Colorido das festas pagãs, das orgias, do São João Degolado, do São João Puteiro, do São Benedito Atrasado. Dos carnavais, das mesas velhas e cadeiras capengas.
A porta principal fechava, mas nunca ficava trancada por dentro, facilitando o entra e sai dos fregueses.
Todos respeitavam muito a dona Maria Umbelina, matrona, cafetina, dona daquela casa de prostituição, onde a bebida e a dança rolavam soltas.
Certa vez, querendo colocar ordem no baile que corria solto, encontrando-se os casais na maior excitação, dona Maria Umbelina parou a música e, no meio do salão, chamou a atenção dos frequentadores que estavam dançando o maior puteiro: “Atenção, pessoal, aqui não é o Clube Feminino não. Aqui exijo ética e respeito!”.
O Clube Feminino na época era o clube da sociedade cuiabana, de finíssima linha.
Contam que a festa do São João Puteiro do bar Colorido era um espetáculo. Tinha rei, rainha, noiva, noivo, madrinha, padrinho, vestimenta de caipira, fogos, banda de música e à meia-noite, procissão com lavagem do santo nas águas cristalinas do córrego da Prainha.
Certa ocasião, na saída da procissão, esconderam o santo que estava no oratório do salão do baile. Mais uma vez, valeu a autoridade da dona Umbelina para descobrir o esconderijo onde tinham colocado o santo, e a procissão se iniciou para alegria de todos.
O progresso de Cuiabá levou para o esquecimento, também, o Bar Colorido; da mesma forma sendo esquecidos praticamente todos os seus frequentadores e responsáveis pelo "entretenimento" mais "sofisticado e respeitoso" do meretrício local naquela época.
Gabriel Novis Neves
22-01-2022
O Bar Colorido à esquerda do "Palácio das Águias" |
* Fotos também cedidas pelo acervo de FRANCISCO CHAGAS ROCHA
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