segunda-feira, 10 de janeiro de 2022

ARMAZÉNS DE CUIABÁ


Lembro-me de alguns armazéns de Cuiabá de "bem antigamente".  


A primeira lembrança traz o de “Tingo”, pai do Desembargador Odiles de Freitas.   Ficava na Prainha, muito próximo à casa onde nasci na rua de “Baixo”, separado pelo córrego da Prainha das escadarias que iam para a “Casa da Luz”.   Do outro lado do córrego morava Antônio Peteté, personagem folclórico da velha Cuiabá.


Desde criança minha mãe me mandava sempre a ir ao armazém do Tingo. Lá se encontrava de tudo.   Entretanto, a especialidade era de venda de raízes e folhas de plantas medicamentosas.


Tingo adquiria essas maravilhas de raizeiros que lhe traziam semanalmente, pois o consumo era grande.   Quando esses especialistas dos segredos do mato estavam no armazém do Tingo, ele não dava papo para seus fregueses.


Ele ficava embevecido com a chegada dos produtos medicinais, alguns que ainda desconhecia, e prestava atenção àquilo que os raizeiros lhe transmitiam.


Tingo foi, à sua época, um excelente "aluno" de farmacologia. Na prática, orientava aos que o procuravam no tratamento dos seus padecimentos.


Eu morava próximo às farmácias, mas foi sempre no Tingo que ia comprar medicamentos ditos "caseiros". Eram, além de eficazes, muito econômicos.


Sempre fiquei encantado com o aproveitamento do espaço físico do armazém, que ocupava a sala de frente da casa onde ele morava com a mulher e filharada.


Vivia entulhada de coisas do armazém, onde até as ripas do teto da sala eram utilizadas para amarrar mercadorias como as redes fabricadas pelas artesãs do “baixo” Cuiabá.


O armazém do Tingo estava sempre com fregueses fumando cigarros de palha, saco de pano com compras nas costas, gatos e cachorros em harmonia, esperando a sobra de “algum” para comer.


Aos dez anos mudei para a rua do Campo, onde conheci outros armazéns da Cuiabá antiga.


Gabriel Novis Neves

06-01-2022







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