quinta-feira, 6 de janeiro de 2022

INAUGURAÇÃO DA FEIRA-LIVRE


Foi no “Dia dos Reis” de 1942, que conheci a “feira-livre”. Ficava na avenida Generoso Ponce, entre as ruas 13 de Junho e Joaquim Murtinho. O evento que marcava a sua inauguração foi muito divulgado pela imprensa e também carros com alto-falantes percorriam as ruas de Cuiabá, convidando a população à participar da festa.


Em casa meus pais comentavam com satisfação sobre a novidade, que "transformava a nossa pequena cidade em grande centro" como o Rio de Janeiro. No Rio, em cada dia da semana, acontecia uma feira em rua de um bairro da zona sul da cidade. O mesmo ocorria em outros bairros.


Eu fiquei entusiasmado ouvindo essas histórias, contadas no tempo que morava naquela casinha da "rua de Baixo". Minha mãe prometera me levar na inauguração da feira.


Todos elogiavam o governador responsável pela idéia.


A moeda oficial do Brasil ainda era a mesma do Império -, os réis (Real). Até então não havia inflação perceptível, nem a necessidade de se criar novas moedas para a mascarar.


No dia do funcionamento da feira, Cuiabá amanheceu debaixo de forte e persistente chuva, impedindo a minha mãe de sair de casa e deixar os “filhos menores que eu” com a “ajudante”.


Quando o temporal virou chuvisco, pedi a ela para fazer a feira. Tinha sete anos incompletos.


Ela me agasalhou, me deu um guarda-chuva e um cesto de palha feito pelos presos da Cadeia Pública, que ficava defronte ao terreno baldio em que depois foi construído o estádio de futebol “Dutrinha”, sob ordens do Presidente da República cuiabano Gen. Eurico Gaspar Dutra.


Minha mãe recomendou que eu comprasse frutas, legumes, verduras, e mais alguma coisa que desejasse e me deu uns “réis” para as despesas.  Fui só, caminhando a pé.


A chuva aumentou de intensidade. Percorri por duas vezes o trecho entre as duas ruas da feira-livre, e o cesto de compras continuava vazio.   


Decidi voltar para casa, e em poucos minutos estava chegando da feira.   Minha mãe foi verificar no cesto aquilo que havia comprado. Para sua surpresa só encontrou maxixes!


Quis saber o porquê daquela compra de um só produto numa feira onde havia de anzol para pescar pacu, até redes para dormir feitas pelas nossas artesãs.


Mamãe: era a coisa mais barata que encontrei em uma “liquidação na saída da feira”, - foi a minha eufórica resposta. Gastei poucos réis, quase nada, e aqui está o troco.


Gabriel Novis Neves

15-11-2021









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