sexta-feira, 21 de janeiro de 2022

O TEMPO DO TEMPO


Quando entrei na faculdade de medicina, em 1955, meu pai tinha quase 61 anos de idade. Era considerado por mim, como um “homem idoso” correndo todos os riscos que a idade avançada “apronta”.


Hoje, meus três filhos estão chegando e ultrapassando a casa dos 55 anos, e são “umas crianças”, sendo que o caçula está completando 30 anos de exercício da medicina!


Minha mãe com 90 anos dançava. Eu com 87 anos escrevo diariamente. Meu pai faleceu com 88 anos.


Como então entender o tempo?


Ele passa lento quando somos crianças e voa quando adultos.


Vejo por mim, quando “ontem” foi segunda-feira, hoje sexta e domingo está aí.


Meu tempo é medido pela ciranda das minhas cuidadoras, cada qual no seu lugar do tempo. A de domingo é sempre diferente daquelas das manhãs e das noites.


E o tempo voa nessa permuta.


Meu filho, quando concluiu seu curso médico, eu tinha 57 anos. Todos me achavam jovem. Quando me formei em medicina, meu pai tinha 66 anos, e era considerado um “homem velho”.


Tanto assim que, presente às festas da minha formatura em 1960, só participou da minha colação de grau no Theatro Municipal do Rio de Janeiro.


Era considerado tão “velho”, que não compareceu ao baile de gala nos salões nobres do Hotel Glória, mesmo tendo uma filha de apenas “cinco anos” de idade.


O tempo é composto por duração e intervalo. O tempo humano, assunto desta crônica, é menor que o tempo geológico.


Escrevo usando meu tempo psicológico em consonância com meu estado de espírito.


O tempo pelo tempo depende de variáveis, e não, de nós.


Nós gostaríamos de ter sempre todo o tempo do tempo.


Gabriel Novis Neves

14-01-2022










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