sexta-feira, 21 de janeiro de 2022

VENDEDOR DE JORNAIS


Estava terminando o meu curso ginasial no Colégio dos Padres quando soube que alguns colegas já estavam ganhando um dinheirinho.


Quis me entrosar para saber como entrar nesse negócio de ganhar dinheiro.  Naquela época não existia pandemia nem essas doenças virais que matou muita gente, e que agora tem tratamento.  A prioridade era ter sempre uns trocados para o cinema e assistir aos jogos de futebol.  Saúde tinha, a não ser um resfriadinho de vez em quando, que a minha mãe curava com gemada.


Meus colegas procuravam a irmã do Arcebispo Auxiliar de Cuiabá, responsável pelo jornal “A Cruz” editada pelo episcopado e também da Rádio Bom Jesus de Cuiabá.  Grandes nomes da literatura mato-grossense como Dr. Barnabé de Mesquita, Luís Filipe Pereira Leite e o próprio Dom Aquino Correa, ficavam responsáveis pelos editoriais.


Chegando ao prédio do Seminário aos domingos, depois da sete horas da manhã, íamos à sala da responsável.  Dávamos o nosso nome e pegávamos cerca de trinta jornais para a venda.  Findo o trabalho voltávamos ao Seminário e acertávamos as contas da nossa produção.


Ganhávamos um percentual por jornal vendido. Sendo jornal religioso, só era comprado por católicos. Os mais crentes faziam assinatura anual e recebiam pelos Correios, muitas vezes atrasado.


Jornalzinho difícil de ser vendido! Muitos compradores faziam a aquisição para nos ajudar. Nunca consegui vender os trinta jornais que recebia, mesmo após percorrer toda a cidade até o Porto.


Na ocasião circulavam os jornais “O Estado de Mato-Grosso” fundado e dirigido pelo seu proprietário Archimedes Pereira Lima. Era o jornal de maior circulação, e sua sede ficava na rua 13 de junho, após à Praça Ipiranga.


“O Diário Oficial” era um jornal que publicava os atos do Governo do Estado, do Legislativo e Judiciário.  Funcionava na Presidente Vargas esquina com a rua do Campo. Trabalhava na distribuição do mesmo Wlademir Dias-Pino.


Existiam ainda dois jornais de partidos políticos: “O Social Democrático”, do PSD. Funcionava num velho sobrado de adobe que desabou. Em seu lugar foi construída a Praça Dr. Alberto Novis.


O outro pertencia a UDN e era impresso em folhas amarelas. Funcionava na casa de um famoso professor, quase vizinho a casa do meu avô, na Voluntários da Pátria.


Os “bacharéis” como eram chamados os cuiabanos recém-formados no Rio de Janeiro em Direito, escreviam muito no amarelinho.  Nomes como José Feliciano de Figueiredo, João Moreira de Barros, Lenine de Campos Póvoas, Euricles Mota, entre outros, brilharam com seus artigos vibrantes no “O Combate”.


Já o professor Gastão de Matos Muller, o próprio Filinto Muller, Emanuel Pinheiro eram as “estrelas” do “Social Democrático”.


Estes dois últimos jornais assim que saiam às ruas tinham logo as suas edições esgotadas.


Meu pai me proibiu de vender esses jornais na rua, temendo brigas para adquirir um número deles.  


Logo depois viajei para o Rio à procura de uma nova profissão.


Gabriel Novis Neves

10-01-2022






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