domingo, 23 de janeiro de 2022

PITORESCO IX


Antigamente se dizia que certas pessoas possuíam cultura e outras não. Hoje, quem não tem cultura tem folclore.


Na Cuiabá antiga, você reunia muitas pessoas sem problemas para passar o Natal na sua casa. Hoje, onde arranjo 10 pessoas sem problemas?


Na Cuiabá antiga, quem não falava português, falava “o cuiabanês”. Hoje, muitos falam idiomas.


Bem antigamente, Cuiabá era uma cidade católica com muitas Igrejas. Hoje, em Cuiabá se pratica muito as superstições.


Na Cuiabá antiga, faziam artes. Hoje, se pratica o artesanato. Os presentes preferidos oferecidos às autoridades que nos visitam, são redes feitas por artesãs de Várzea-Grande. Muito raro, o quadro de um pintor cuiabano.


Bem antigamente, reverenciávamos os “seres humanos”. Hoje, só falamos em “recursos humanos”.


Na Cuiabá antiga, as pessoas tinham nomes. Hoje, são números com CPFs.


Bem antigamente, certos cuiabanos ilustres como Joaquim Murtinho, apareciam nos livros de História do Brasil. Hoje, muitos aparecem nas páginas policiais da imprensa de Cuiabá.


Na Cuiabá antiga, falava-se que o custo de uma bala para matar certas pessoas era mais cara que a pessoa à matar. Hoje, se mata até de “raiva” em Cuiabá.


Bem antigamente, desaparecidos em Cuiabá eram aqueles que não eram mais vistos na cidade. Hoje, são os mortos sem tumba, as tumbas sem nome.


Na Cuiabá de antigamente, tínhamos os bosques nativos, o direito de caminhar, o futebol de rua, as casas sem grades, as portas sem fechadura. Hoje, isso tudo é recordação de um tempo que não volta mais.


Na Cuiabá antiga, tínhamos empregos e aposentadorias. Hoje, não há emprego para todos e muitos ganham a vida com pequenos “biscates”.


Bem antigamente, os estudantes de Cuiabá no Rio de Janeiro, escreviam cartas semanais aos seus pais e postavam nos correios. Hoje, falam várias vezes por dia com eles, pelo celular.


Na Cuiabá antiga, os funcionários funcionavam. Hoje, nem tanto.


Bem antigamente, as escolas de Cuiabá ensinavam aos seus alunos. Hoje, algumas ensinam a ignorar, assim como os meios de informação desinformam.


Bem antigamente, os votantes votavam  nas eleições para elegerem seus governantes, mas não escolhiam. Hoje, continuam assim.


Na Cuiabá antiga, os prejuízos eram socializados e os lucros privatizados. Hoje, continua assim.


Bem antigamente, a televisão apareceu para mostrar o que acontecia. Hoje, mostra o que ela quer que aconteça.


Bem antigamente, havia censuras para certos livros. Hoje, os livros não precisam ser proibidos pela polícia: os preços já os proíbem.


Na Cuiabá antiga, cultivava-se a amizade. Hoje, vamos ao shopping e descobrimos que não há amigos para se comprar. Nem todo o mundo tem amigo.


Bem antigamente, “besta” era quem vivia triste. Hoje, aprendemos na vida como não ser “besta”.


Na Cuiabá antiga, viajávamos de pequenas embarcações saídas do cais do Porto, onde nossa embalagem era carregada pelos meninos. Hoje, só de aviões viajamos e muitos aeroportos os proíbem brincar com os carrinhos de mão que transportam nossas bagagens.


Gabriel Novis Neves

19-12-2021



Catedral metropolitana de Cuiabá, início do século XX

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