terça-feira, 18 de janeiro de 2022

LAVADEIRAS


Após o início da industrialização do Brasil - e que foi ontem para a história - muitos trabalhos manuais desapareceram do mercado de trabalho.


Lembro-me das antigas lavadeiras de Cuiabá.  Quando cheguei ao Rio para estudar, ainda tinha uma lavadeira.


Essas maravilhosas mulheres de meia idade, no início da semana iam a minha casa buscar as roupas usadas e as traziam lavadas no final da semana.   Mamãe ficava responsável pelo trabalho de “passar a roupa” no ferro de brasa, fértil no fogão de lenha da cozinha.   No Rio, como era pouca roupa, a lavadeira devolvia a roupa lavada e passada, pronta para ser usada.


As trouxas de roupas que as lavadeiras levavam à cabeça, apoiadas em uma rodela de pano para não deslizarem, era o “espetáculo de equilíbrio” que se observava nessas trabalhadoras.


Eram pessoas simples e moravam na periferia da cidadezinha dos anos 40-50, de pouco mais de 30 mil habitantes.


Cuiabá possuía um lençol freático abundante e superficial, sendo comuns as corredeiras, córregos, lagoas e pequenos rios.   Nesses lugares, as antigas lavadeiras de Cuiabá trabalhavam, e também no Tanque do Baú, próximo ao centro histórico de Cuiabá.


Essas senhoras lavadeiras geralmente não usavam calçados, para melhorar o seu equilíbrio com as roupas na cabeça, geralmente embrulhadas em lençóis.   Muitas tinham o hábito de mascarem pedaços de fumo comprados nos armazéns.


No Rio, minhas lavadeiras eram de cidades suburbanas, muitas de Caxias e Nova-Iguaçu. “Viajavam” de trens e ônibus até os seus fregueses da zona sul do Rio de Janeiro.   Seus preços eram acessíveis até ao mais simples estudante que ocupasse vaga em quarto de pensão.


Hoje as lavadeiras foram transformadas em “diaristas”, que realizam o trabalho de lavar as roupas em máquinas e de passá -las com ferros elétricos, nas casas das patroas.  Elas também têm maquinas de lavar e ferro de passar em casa, apenas para seu uso particular.


Gabriel Novis Neves

11-01-2022




N.E.: Lavadora é a forma feminina de lavador. Também se refere à máquina de lavar de uso caseiro ou não. Entretanto, no Brasil, a forma popularizada para o feminino de lavador é Lavadeira e, nesse caso, há as seguintes designações:

1ª. É usada para nomear a profissional em lavagem de roupas, ou melhor, "a mulher que tem por ofício a lavagem de roupas nas fábricas de lanifícios¹". Também serve para nomear as máquinas usadas nas lavagens de lã.

2ª. É usada para nomear a mulher de origem humilde, de condição modesta que tem como "bico" a lavagem de roupa: Veja Ismael, as lavadeiras batendo roupas no córrego.

3ª. Qualquer mulher que lava roupa.

Este é mais um caso em que o uso popular contraria as prescrições da norma culta.


(RECANTO DAS LETRAS, Ricardo Sérgio)


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