segunda-feira, 13 de setembro de 2021

TEMPOS DE POLÍTICA


Em períodos de política, as mesas do Bar do Bugre ficavam divididas entre aqueles que apoiavam o governo daqueles que eram opositores. 


Naquela época não era usado ainda o termo empresário para os comerciantes como é hoje. 


Em casa, meu pai dizia que o governo nunca perdia eleição, tinha suas preferências entre os conservadores, mas no bar era “irritantemente” neutro! 


Certa ocasião perguntei-lhe o porquê dessa sua postura, e ele me respondeu que, como homem de negócios, embora restrito ao comércio varejista, não podia explicitar suas preferências políticas para não perder sua imensa freguesia. Ele tinha toda razão, e no seu enorme bar o pessoal encontrava frequentadores dos mais diversos matizes políticos.


As discussões políticas existam entre os fregueses, chegando muitas vezes a elevar o tom das discussões, nunca, porém às vias de fato. Meu pai contava como troféu que, em meio século como dono de bar, nunca ninguém tinha atirado dentro do seu estabelecimento, fato normal em outros bares da época, hábito esse que permanece até hoje.


Para reforçar o que digo,  as redes sociais de hoje relatam tiroteio num bar de Cuiabá por motivos políticos.


Naquela época era comum no fundo do principal salão do bar, próximo à enorme eletrola, colocar a foto oficial do Presidente da República. Quando da queda da ditadura Vargas na noite de 29 de outubro de 1945, no dia seguinte, antes da abertura do bar, papai já havia retirado da parede a foto do ditador e guardado em seu “fantástico” escritório nos fundos do bar.


Quando,  às 10 horas da manhã, jovens bacharéis em direito recém-formados no Rio de Janeiro, comandados por José Feliciano de Figueiredo, entraram no bar para quebrar o quadro com a foto do Getúlio nada encontraram, logo saíram e foram quebrando dos outros bares e cafeterias das redondezas.


Meu pai sempre foi um moderador, não usava armas e não brigava com ninguém. Seu bar foi reconhecido como “campo neutro” para manifestações políticas.


Quando, 5 anos depois, Getúlio Vargas ganhou as eleições do Brigadeiro Eduardo Gomes para Presidente da República, papai retirou o antigo quadro com a foto da Getúlio do mofado escritório e o pregou na mesma parede do salão do bar, e “inocentemente” colocou na velha eletrola, a marchinha carnavalesca cantada por Chico Alves, - “Bota o retrato do velho" outra vez...


Assim era o cenário político de antigamente no Bar do Bugre!


Gabriel Novis Neves 

10-09-2021




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