terça-feira, 7 de setembro de 2021

MEDICINA, AMOR E VIDA


A eficiente enfermeira transfundiu o antibiótico, diluído em 100 ml de soro fisiológico, pelo catéter do paciente, enquanto cantarolava baixinho um pagode do grupo musical “Menos é Mais”


“Eu só quero que você seja feliz” - cantarolava ela - enquanto apreciava o gotejamento na veia do paciente. 


“Pagode raiz”, disse-me se chamar esse gênero musical feito para dançar e animar festas. 


“Quero que você tenha tudo aquilo que um dia sonhou”, continuou.


Essas coisas não se aprendem na escola, e é o humanismo tão apregoado por todos para a difícil área que é a da saúde! 


A dor sempre sucumbiu à música e à alegria, comprovada pelos “Doutores da alegria”. Grandes temas foram traduzidos em livros que brotaram no aparente frio dos Centros Cirúrgicos dos nossos hospitais.


Quem não se lembra da “Veia bailarina”, de autoria do grande escritor brasileiro Ignácio de Loyola Brandão? 


Imagine o que seria acordar de manhã sabendo-se portador de um aneurisma cerebral que pode se romper a qualquer momento e cujo único tratamento era a cirurgia cerebral!


Seus momentos decisivos têm em um hospital, onde moram as dores, com seus corredores cheirando medicamentos, o olhar sobre os outros doentes, as visitas, curativos, sustos noturnos, a comida, os exercícios físicos e a obsessão pela recuperação.


No dia da cirurgia Loyola não saiu do quarto sedado para o centro cirúrgico e lá, com a “ameaça” de morrer, quis gravar tudo que ouvia de olhos fechados para, em caso de sucesso, escrevesse um novo livro, disse o membro da Academia Brasileira de Letras de Machado de Assis.


Percebeu que enfermeiras tentavam pegar uma veia do seu braço e não conseguiam. Veio então uma nova colega para tentar a punção venosa.  Esta chegando, fez novo garrote no braço, deu tapinhas na superfície da pele que seria puncionada e disse à colega que a antecedeu: “esta é a famosa veia bailarina!”


Loyola fez um esforço sobrenatural para não se esquecer da expressão. Logo após dormia para a cirurgia. Ao acordar veio à sua memória a veia bailarina. Loyola não morreu e a literatura brasileira ganhou um grande livro, onde menos se esperava haver poesia - Centro Cirúrgico, com a sua veia bailarina.


Assim foi hoje com o cantarolar alegre da enfermeira em paciente preocupado com a recuperação da sua saúde. Dois exemplos que encontramos poesia onde menos esperamos. Felizes daqueles que “degustam” essas pequenas pérolas de romantismo mesmo nas mais difíceis situações.


Como é lindo um sistema de saúde humanizado!


Gabriel Novis Neves

06-09-2021




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