segunda-feira, 6 de setembro de 2021

NATUREZA


Recebi de um amigo um pedido para escrever “sobre o descaso com nossa natureza”. É um assunto bastante polêmico, apaixonante, difícil de conseguir um consenso.


Os radicais defendem a teoria absurda que a terra tem que ser intocável. Especialmente Ongs internacionais que financiadas pelos países que acabaram com a sua natureza, são vigilantes severos da nossa natureza.


Sou defensor do desenvolvimento sustentável com responsabilidade.


Com a implantação da UFMT em 1972, instalamos na Cachoeira de Dardanelos, no município de Aripuanã, onde somente um piloto naquela época, – Furquim conseguia chegar com auxílio dos seus conhecimentos aéreos ao local. 


Os mapas de navegação da época eram fantasiosos, comentou certa ocasião o piloto Furquim. O governador de então, Pedro Pedrossian, resolveu  nomeá-lo primeiro prefeito de Aripuanã, isso no final da década de sessenta.


Em 1973, em verdadeira operação de guerra com a FAB, a nossa recém-nata universidade implantou a Cidade Laboratório de Humboldt, em Aripuanã! O objetivo era colher na região conhecimentos mesmo empíricos, que na sede em Cuiabá seriam transformados em currículos de novos cursos. Seria inevitável naquela ocasião o encontro da corrente migratória vinda do sul brasileiro com a mata fechada.


Nossa proposta seria no sentido de preparar técnicos de nível superior, para o choque inevitável. De lá para cá todos conhecemos que a presença dos colonizadores deu origem a dezenas de cidades novas, e o agronegócio e pecuária transformaram nosso Estado - o mais produtivo do país na produção de alimentos sendo recordistas em exportações.


Na região havia dezenas de grupos indígenas ainda sem contato com o colonizador, mas com trágica experiência com os seringueiros e garimpeiros.


Nestes últimos sessenta anos, dezenas de cidades novas nasceram, ocupando o cerrado e a mata alta. Temos ainda uma área de mata, dentro dos padrões internacionais de preservação ambiental.


Temos problemas em todo Estado que demonstram “descaso com a natureza” como a nossa querida Cuiabá que até hoje não possui uma eficiente rede de esgotos sanitários. A ânsia do progresso fez Cuiabá perder seus pequenos rios, e o lençol freático abundante soterrado por asfalto. A arborização foi seriamente danificada e a temperatura sempre está com valores altos.


Este problema não é apenas de Cuiabá, mas, de todas as médias e grandes cidades do Brasil. Temos que educar as nossas crianças a respeitar o meio ambiente, só assim poderemos por um fim a esse “descaso com a natureza”.


Cuiabá possui um lençol freático bem superficial e a cidade cresceu em um “buraco”. Permanentemente águas escoriam pelas pedras das ruas Cândido Mariano, Voluntários da Pátria, Isaac Póvoas, Getúlio Vargas e outras, em direção ao então não poluído Córrego da Prainha, local de brincadeiras das crianças da minha geração.


Cuiabá é chamada de Cidade Verde não sem razão, pois era encoberta de enormes árvores frondosas e frutíferas que lhe protegia do sol escaldante. Os casarões com seus quintais úmidos e as poucas ruas calçadas, propiciavam um cenário acolhedor aos seus moradores.


Quando deixei Cuiabá em março de 1953 para estudar medicina no Rio de janeiro, a cidade tinha como limites o Rio Cuiabá e o tanque do Baú, ladeada pelas correntezas de água e o Rio Coxipó. Depois, com a migração em massa de colonos do sul do Brasil, as áreas de transição entre o cerrado e a mata alta foram praticamente ocupadas com a lavoura e pecuária motorizada.


No final dos anos sessenta, vi inúmeras cidades brotarem em região de cerrado e mata alta, com a extinção de várias etnias que eram as zeladoras do meio-ambiente.


Fica fácil imaginar que a natureza sofreu, apesar das leis vigentes sérios revezes que se traduzem como “descaso com a natureza”.


Hoje vivemos do agronegócio, das grandes derrubadas da mata alta para comercialização da madeira, como antigamente do ouro e da borracha. Um dia a terra cansa, portanto, temos que aproveitar este momento para investirmos em tecnologia.


O homem é o único animal predador da sua natureza, e o descaso com ela, motivado por interesses econômicos e políticos inconfessáveis, não se preocupando com o futuro dessa nação.


Somos defensores do desenvolvimento sustentável e manejo científico da ocupação da nossa natureza, inclusive utilizando modernas tecnologias. Caminhamos talvez para a última perda da nossa história, que é a do meio ambiente e suas riquezas, com esse descaso irritante.


Gabriel Novis Neves

  05-09--2021




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