sexta-feira, 17 de setembro de 2021

ESCOLAS DE MEDICINA NO BRASIL


Em 1960, quando me formei em medicina pela Universidade do Brasil, hoje Universidade Federal do Rio de Janeiro, existiam no Brasil apenas 26 escolas médicas e o curso de graduação era terminal, preparando os alunos para o imediato exercício da profissão.Não havia Residência Médica como nos dias de hoje, e sim, os estágios pós-graduação. 


Alguns poucos colegas iam para os EUA para estagiar em Clínicas famosas e muitos não voltaram para exercer a medicina no Brasil, especialmente aqueles que se dedicaram a Cirurgia Cardíaca.


A pós-graduação era um sonho para a maioria dos médicos, ficando as bolsas de estudo restritas a pouquíssimos médicos do Rio, São Paulo, Minas e Sul do Brasil.  Eram bem elitistas esses estudos de pós-graduação, como mestrado e doutorado.


Hoje, segundo informações do Presidente da Academia de Medicina de Mato-Grosso, possuímos cerca de 360 escolas médicas, sendo poucas ainda sem funcionar.


Participei, como Reitor da UFMT, da instalação e funcionamento da nossa Escola de Medicina em 1980 e, como Secretário Estadual De Educação no Governo Pedro Pedrossian, da sua criação em 1970!


Foram longos 10 anos de espera, determinados pelo MEC, quando criou uma “Comissão de Grandes Nomes” da medicina brasileira para opinar e negar o surgimento de novas escolas que, segundo eles,  estavam substituindo as “fontes luminosas” das pracinhas do Brasil!


Nessa espera, a UFMT fortaleceu seus cursos da saúde criando novos cursos , como enfermagem, nutrição, biologia, educação física, suporte de docentes para o novo curso de medicina.


Anos depois, aposentado da UFMT e com apenas atendendimento no consultório, aceitei o convite do Reitor Altamiro Galindo da UNIC, pra implantar um curso de medicina em universidade privada.


Um Procurador da Justiça Federal de então, resolveu proibir o funcionamento do novo curso de medicina, já com seu vestibular marcado, assim como o início do ano letivo.


Foi então que o nosso zeloso CRM resolveu nos chamar para esclarecer aqueles fatos. O Diretor da faculdade de medicina atendeu ao convite, e se fez acompanhar de todos os diretores dos cursos das áreas de saúde da Unic já em funcionamento como Odontologia, Enfermagem, Fisioterapia, Biologia, Psicologia, Bioquímica e Análises Clínicas. 


Quando do nosso encontro em Brasília, fomos hostilizados de maneira injustificável quando um professor e escritor, notável médico no Rio de Janeiro, voltou as costas para o Reitor da UFMT, abriu um jornal para leitura quando  este iniciou o uso da palavra,  que a fora oferecida para justificar o funcionamento de mais uma escola de medicina em nosso país.


Aqui no CRM as agressões foram verbais, com aumento do tom da voz dos médicos, dizendo que o diretor da nova faculdade de medicina “pertencia ao crime organizado”!


Em instâncias superiores, a vontade do Procurador da Justiça Federal não foi suficiente para impedir o vestibular e o funcionamento da faculdade de medicina.


Hoje, os filhos dos médicos que esbravejaram no CRM, estudam, onde seus pais muitos deles, ainda lecionam.


As duas faculdades de medicina da cidade de pouco mais de 600 mil habitantes possuem hoje veteranas escolas médicas muito bem avaliadas pelo Conselho Federal de Medicina, formando excelentes profissionais inseridos com sucesso nos mercados de trabalho de Cuiabá e região, onde vários são jovens e talentosos docentes.


Essa é história do funcionamento das nossas duas escolas, que têm em comum a humilhação sofrida por seus primeiros dirigentes para existirem.


Gabriel Novis Neves

14-09-2021




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