segunda-feira, 20 de setembro de 2021

O CÉU COMO RECOMPENSA


Assisti ao meu primeiro show "de revistas" já médico, em 1961, na boate do Hotel Copacabana Palace, a mais importante do Brasil naquela época. Fui na companhia de Carlos Eduardo e Piedade Epaminondas, como meus convidados.


Começava com o pé direito minha vida noturna, na opinião de muitos. Mas, contarei o milagre e o santo milagroso que me conduziu ao espetáculo, que era uma homenagem do produtor Carlos Machado a Lamartine Babo.


Claro que não tinha dinheiro para assistir ao show maravilhoso, e tampouco, convidar um casal de amigos para sentarmos em mesa especial, ao lado do famoso produtor!


Naquela ocasião dava plantão de 24 horas em um Hospital e Maternidade, ambos pertencentes ao político Álvaro Dias, de Jacarepaguá. Eu era colega do seu filho "Alvarozinho", chamado pelo carinhoso apelido de "Tatá" pelos seus colegas de faculdade e CPOR.


Certo dia o Tatá me procurou no Souza Aguiar, e me convidou para trabalhar no hospital onde assumira o cargo de Diretor Geral, já que seu pai estava impedido por ter sido nomeado para o Tribunal de Contas do Estado, presente maior para políticos que deixavam a vida partidária. Combinamos o salário e na mesma semana já estava trabalhando lá.


Em 1961, pegava três conduções para chegar ao hospital, mas valia a pena lá trabalhar, às vezes com um acadêmico estagiário. 


Logo no meu segundo plantão fui recebido pelo plantonista, dizendo que estava deixando uma “bomba” para mim! Uma menopausada judia, com diabetes descompensada e passando mal. Todo o plantão estive ao seu lado e esposo, um enorme alemão que a acompanhava. Graças a Deus, entreguei o plantão ao meu sucessor, com a paciente compensada da diabete e bem.


O casal de estrangeiros não sabia como me agradar. O senhor Fritz me deu, autografado, um livro de sua autoria sobre vinhos, e um cartão com nome e telefone do seu local de trabalho - Boate Goldrom do Copacabana Palace. Insistiu para que eu telefonasse para ele, onde daria notícias da sua esposa.


Em um desses telefonemas perguntou se conhecia a boate do hotel mais querido do Brasil. Respondi que nunca tinha entrado ali. Convidou a mim e namorada para assistirmos ao show de homenagem a Lamartine Babo, e ainda falou que eu poderia convidar um casal de amigos para completar a mesa! A essa altura sabia que o esposo da minha cliente era funcionário do Copa, mas não a sua função.


Marquei dia e hora, convidei Carlos Eduardo e Piedade, peguei um taxi com a Regina e fomos para a Avenida Nossa Senhora de Copacabana, onde ele me esperava com uniforme diferenciado dos outros funcionários e com a orquestra já funcionando para dançar na sua pista de danças (com piso de vidro iluminado onde alguns casais apaixonados, já dançavam).


Colocou-nos em uma mesa que, notei, ser de destaque, ao lado do Carlos Machado, sozinho fumando o mais saboroso charuto cubano.


Educadíssimo, agradeceu a nossa presença e passou a carta de vinhos, que tinham preços ao lado dos nomes muito nobres. Tive que reconhecer a inexperiência ao meu nobre amigo, afirmando não iríamos escolher nada, ficando essa função para ele. Nunca bebi e comi tão bem em minha vida e, embalado pelo clima de romance, dancei com Regina a noite toda no piso iluminado da boate.


Ao sairmos, meu amigo fez questão de chamar o taxi, abriu a porta para as moças e depois para nós. Presenteou-me com mais um livro sobre gastronomia e, aceitando seu generoso convite, voltei mais umas duas vezes, para reprisar o lindo espetáculo.


Vale a pena fazer o bem, mesmo não sabendo a quem. Assim conheci a boate mais famosa e cara do Brasil.


Gabriel Novis Neves

18-09-2021


Hotel Copacabana Palace 

Salão Golden Roon




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