A
Constituição Federal assegura o direito de greve a todo trabalhador.
A
primeira greve ninguém esquece. A minha foi quando frequentava o segundo ano do
curso de Medicina no Rio de Janeiro.
O
motivo não era reivindicação por melhores condições de ensino, excelente
naquela época na famosa escola da Praia Vermelha, chamada pelos estudantes como
a Matriz.
A
causa, naquele momento, foi o aumento da passagem do bonde, de algo como de
cinquenta para setenta centavos (acho que era época dos "mil reis”).
O
movimento estudantil era muito organizado, com um forte comando da UNE (União
Nacional dos Estudantes).
Como
toda greve, tinha um viés político, uma vez que a concessão do serviço de
transporte nos bondes elétricos pertencia a uma multinacional - a Light.
Vivíamos
o apogeu do nacionalismo com a criação e implantação da Petrobras - “O petróleo
é nosso”.
Toda
a estudantada foi às ruas, apoiada pela população civil, bloqueando os trilhos
que davam passagem aos bondes, transporte da maioria dos estudantes e
trabalhadores, paralisando boa parte da cidade.
Discursos
inflamados se ouviam dos estudantes pendurados nos estribos dos bondes
protestando contra essa grande injustiça social.
O
movimento se destinava também a nacionalizar esse serviço essencial, o que, de
fato, aconteceu anos depois.
Os
dias foram passando e o acordo com a Light não saía.
Criado
o impasse para volta às aulas e regularização do transporte coletivo, o jeito
foi apelar ao Presidente da República, que prontamente aceitou a missão de paz.
A
Comissão de Greve foi recebida em audiência, em horário nobre, pelo Presidente
Juscelino Kubistchek de Oliveira.
Enquanto
ouvia o apelo dos estudantes, o médico mineiro deu gostosas gargalhadas e, no
final, avisou aos presentes que voltassem imediatamente às salas de aulas,
porque decidira não deixar aumentar as passagens dos bondes.
O
governo subsidiaria a diferença para honrar o contrato com a Light. O
presidente finalizou dizendo que o importante para o Brasil era formar uma
elite universitária preparada para comandar os destinos desta nação rumo ao
desenvolvimento.
Foi
uma festa a saída da Comissão de Greve do Palácio para passar as boas notícias
aos estudantes acampados em frente ao Catete.
Anos
depois, como Reitor da UFMT (Universidade Federal de Matogrosso), administrei a
primeira greve dos estudantes da nossa instituição de ensino superior, por
motivos políticos nacionais, visando a redemocratização do país.
Os
inexperientes alunos solicitaram, inclusive, reforço do Presidente da UNE, na
época na clandestinidade, para ajudá-los na manutenção da greve.
O
ambiente durante a paralisação foi de muito respeito, dentro dos parâmetros de
um movimento paredista, e o jovem que veio auxiliar nossos calouros grevistas,
tornou-se meu amigo, e hoje é Ministro da Defesa do Brasil.
Para
um final feliz, com a preservação do primeiro movimento estudantil na UFMT, eu,
como reitor, assumi "a falsa culpa pelo motivo do movimento", que,
por acaso, também não visava melhoria da qualidade de ensino.
Tudo
isso é história para relembrar o momento em que pipocam greves, com justas
reivindicações de condições de trabalho e ensino.
Iniciar
uma greve é fácil, difícil é encerrá-la.
Essa
constatação foi válida nos meus tempos de reitoria tanto quanto o é nos dias
atuais.
Gabriel
Novis Neves
19-10-2015
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