Durante
a minha prática médica nesses últimos sessenta anos, muitas foram as
reclamações das mulheres com relação ao comportamento afetivo-sexual de seus
companheiros.
O
que realmente me espanta é que, apesar das grandes transformações vivenciadas
pelas mulheres a partir da revolução sexual dos anos sessenta, as queixas têm
sido reiteradas e, até mesmo, mais enfáticas e mais desinibidas, em todas as
faixas etárias.
O
homem, desde sempre um animal predador, tem como premissa genética o sexo
fortuito, pelo simples prazer, descompromissado de qualquer vínculo, a não ser
o da reprodução.
A
mulher, pelos condicionamentos repressivos aos quais foi submetida durante
séculos, e também por razões fisiológicas e hormonais, tem a sua sexualidade
muito vinculada aos estímulos basicamente cerebrais e, portanto, bem mais
diferenciados.
Mal
comparando, é como se o homem dependesse apenas de um botão disparador,
enquanto a mulher de todo um painel repleto de conexões.
Essa
grande diferença entre os gêneros, aliada à falta de informação e de educação
sexual, é a causa de tantos questionamentos e incompreensões no quesito comportamento sexual.
Isso
na natureza é muito bem resolvido, pois as fêmeas, de qualquer espécie, apenas
aceitam o conluio sexual durante a fase do cio, o que é absolutamente
respeitado pelos machos. No animal irracional não existe a possibilidade de
estupro.
Nós
humanos fazemos exatamente o contrário, desrespeitamos todos os nossos
instintos naturais. Culturalmente fomos condicionados a tratar as mulheres
apenas como objetos do nosso desejo, ignorando os seus ápices de atividade
sexual.
A
mulher moderna, ainda confusa e convencida da igualdade de seus direitos e
deveres, passou a exigir de si mesma e de seus prováveis futuros companheiros
um comportamento para o qual os machos tradicionais não estavam preparados, ou
seja, a aceitação da mescla de liberdade com libertinagem.
Homens
queixam-se que as mulheres modernas, com a falência do amor romântico, perderam
a noção de que o instinto primordial do macho é o de caçador.
Mulheres
queixam-se da menor procura para vínculos mais estreitos, e não apenas os de
satisfação sexual imediata.
Enfim,
as conquistas femininas arduamente conseguidas transformaram-se em novos
questionamentos no plano afetivo.
Além
disso, a mulher moderna, muito competitiva, passou a exercer o papel de
caçadora, e não de caça, para a qual foi biologicamente programada.
Discute
abertamente, até em redes sociais, suas avaliações outrora íntimas quanto ao
tamanho e performances masculinas, tornando os pobres machos apequenados diante
de situações nunca antes vividas e, portanto, inseguros na sua sexualidade.
A
meu ver, essas percepções equivocadas têm sido a grande causa do aumento dos
desencontros amorosos no momento atual.
Pela
lei da oferta e procura, se a caça é abundante, o predador se torna menos
interessado.
A
juventude, diante dos exemplos das gerações mais velhas, começa a adotar o
poliamor, em que duas, três ou mais pessoas, independente do gênero, passam a se relacionar afetiva e sexualmente
de maneira aberta, sempre caracterizada pela ausência de posse.
Alguns
programas televisivos em horário nobre, já discutem esses relacionamentos.
Os
adultos, para corresponderem aos padrões sexuais apregoados pelas mídias -
inclusive as pornográficas - nas atividades atléticas e frequentes enchem-se de
substâncias que, a rigor, só deveriam ser usadas em casos graves de disfunção
erétil e, mesmo assim, com controle médico.
Não
por acaso, essas substâncias são campeãs de vendas medicamentosas.
Os
idosos, nessa onda competitiva, acabam enfrentando os graves efeitos colaterais
dessas drogas e muitos deles são levados à morte prematuramente.
Todo
esse quadro de desinformação sexual já deveria ter sido resolvido se, alijadas
as hipocrisias, fosse obrigatória como matéria nos currículos escolares a
desmistificação da sexualidade.
É
preciso que tabus e mitos além da compreensão histórica de tantos desencontros
nessa área sejam discutidos abertamente nas salas de aula de todo o país.
Não
adianta rotular de laicas as escolas se elas continuam formando pessoas
cobertas de amarras sociais, culturais e religiosas que impedem o seu
crescimento na área mais importante da vida humana - a sexualidade.
Gabriel
Novis Neves
02-11-2015
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