Tenho
muitas dúvidas se os relacionamentos amorosos tardios são realmente benéficos
aos idosos.
Possuidores
de tantos traumas do passado, eles carregam marcas profundas na sua
personalidade e que passam a funcionar como obstáculos para novos vínculos
afetivos.
Isso
explica porque os jovens estão sempre em galeras, enquanto os idosos estão mais
propensos ao bloco do eu sozinho. A
imagem da solidão costuma acompanhar essa fase final da vida.
A
grande maioria dos velhos não exerce o seu presente, apenas se fixa na
repetição de seus modelos e experiências neuróticas do passado, inviabilizando,
portanto, a perspectiva de um futuro promissor, ainda que não tão longo.
Tornam-se
cargas pesadas para os seus circunstantes o que, como num círculo vicioso,
redunda em mais baixa autoestima.
Olhando
em volta, o filme é sempre mais ou menos o mesmo, repetindo-se em todos os
níveis, onde apenas os personagens têm vestimentas diferentes, denotando uma
melhor ou pior condição sociocultural.
Claro
que a diminuição da capacidade física, algumas vezes acompanhada da mental,
torna o idoso um ser bastante discriminado, não só entre os chamados “entes
queridos, mas também em relação aos outros idosos”.
Essa
sensação de insegurança inerente à idade acontece no geral, e costuma trazer no
seu bojo as crises de solidão e de identidade.
Nas
classes mais abastadas esses efeitos são minimizados pela possibilidade de
novos interesses, novas viagens, novos horizontes.
Entretanto,
no quesito afeto, as coisas são sempre mais difíceis.
No
caso da perda do/a companheiro/a, a sensação de abandono é ainda maior.
A
simples presença do outro, mesmo que já não tão valorizada, é responsável por
uma enorme sensação de segurança na velhice.
Aliás,
como nessa fase nos tornamos muito parecidos às crianças, nos vinculamos às
pessoas em busca de proteção, tal como fazíamos com os nossos pais.
Novos
relacionamentos são sempre difíceis nessa época da vida, pois não temos mais a
autonomia que tínhamos em jovens.
Raramente
se vê uma família que estimule o seu idoso a novas experiências afetivas. Ao
contrário, o estado depressivo justifica “os cuidados de cerceamento” e tudo
fica coerente com a sociedade hipócrita vigente.
Vejo
apenas os muito egoístas e os lobos solitários como as únicas pessoas idosas
capazes de peitar o sistema, uma vez que, centrados em seus próprios umbigos,
conseguem se alienar de todo esse esquema falso protetor capaz apenas de
acelerar o processo de envelhecimento, notadamente fabricado.
Ao
castrar as iniciativas humanas, decreta-se a sua morte.
No
reino animal, os bichos se desvencilham de suas crias muito precocemente e
voltam à sua liberdade existencial.
Isso
não acontece com a maioria dos humanos, que vão acumulando pela vida afora o
peso pela felicidade dos filhos, dos netos, como se isso fosse possível.
Em
países desenvolvidos, políticas visando essa faixa etária são levadas muito a
sério e programadas para que a sociedade absorva, ou, pelo menos, neutralize um
pouco as mazelas da velhice.
Entretanto,
ao que tudo indica, ainda estamos muito longe de nos interessarmos por um
mercado que não gera lucros ao sistema, ao contrário, apenas o onera com as
suas pensões.
Gabriel
Novis Neves
21-04-2015
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