Fico
imaginando que tipos de novas substâncias conseguirão preencher os vincos e as
rugas que surgiram em certas pessoas ao longo de uma vida mal vivida, apenas
dirigida para o sucesso e para a superficialidade que a acompanharam.
Sim,
porque, até o momento, isso não foi conseguido, já que, em reuniões sociais
zeradas de interesse, a não ser a obtenção de novos negócios, o que vemos são
máscaras mal feitas do que gostaríamos de nos ter tornado com a cruel passagem
do tempo.
Botoxados,
homens e mulheres carregam o peso da mentira e da ausência de criatividade,
como se seus cartões de visita fossem tão somente os clones de si mesmas.
Afinal,
a quem queremos enganar? Ou será que a única coisa que restou da nossa imagem é
a sensação de uma carcaça carcomida?
E
as famosas Serenidade e Sabedoria decantadas em verso e prosa através dos
tempos? Onde ficaram nesse mundo do hiperconsumismo e da superficialidade como
temas?
Esses
comportamentos são mais gritantes em países subdesenvolvidos, já que
civilizações com maior peso cultural tendem a usufruir de suas vidas de maneira
mais condizente com os seus valores.
Encanta-me,
em viagens à Europa, não só a visão das belas cidades medievais, mas,
principalmente, o envolvimento de casais com suas cabeças brancas, seus ares
descontraídos, desfrutando juntos da
beleza que a vida ainda pode lhes oferecer depois da criação da prole.
Claro,
isso ocorre em países em que as pessoas se tornam independentes, com seus
cordões umbilicais cortados na época certa e prontos para o mundo que os aguarda com todas as suas incertezas.
Nesses
casos, filho, não é propriedade individual, e sim, a nossa contribuição à manutenção da espécie. Uma vez
apto, ele decidirá as suas próprias regras na condução de suas vidas.
Aqui
na terrinha, ao contrário, submetidos a um falso protecionismo, transformamos
os nossos descendentes em figuras menores que, de preferência, girem ao nosso
redor, transformando-os assim em presas fáceis para qualquer tipo de lavagem
cerebral, seja ela comportamental, social, política e até mesmo estética.
O
tão falado “borogodó” ultrapassa todas as fronteiras da estética e é encontrado
geralmente em pessoas que fogem de
padrões pré-estabelecidos por sociedades decadentes, incapazes de priorizar a beleza do singular ao invés da mesmice do coletivo.
Caras
de “lua cheia”, que outrora denotavam uso de corticoides para tratamentos de
doenças específicas, hoje desfilam como fantoches sem fios suspensores na busca
da juventude eterna que só mesmo aos próprios pode convencer.
O
poder de massificação, denominador comum de sociedades menos evoluídas, é de
tal maneira forte que mesmo pessoas tidas como coerentes, entram nessa festa
macabra que vai do nada a lugar algum.
No
entanto, cada um escolhe como quer envelhecer - com ou sem dignidade.
O
caminho da superficialidade das coisas pode ser um caminho sem volta.
Contrariamente,
aqueles que optam em seguir outro caminho, são pessoas livres para a
experimentação de outras bagagens emocionais e impedem que elas se ensimesmem
em seus próprios umbigos.
A
busca por novos interesses e por novos aprendizados é a única possibilidade de
ativação de novas zonas cerebrais capazes de transformar a velhice numa fase da
vida bastante agradável, descompromissada dos danos estéticos pertinentes.
Adoro
a juventude, mas, sem a perspectiva, por mais remota que seja, de competir com
ela.
Gabriel
Novis Neves
30-04-2015
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.