As
pessoas que gostam de escrever, seres hipersensíveis, em que a palavra oral não
é suficiente para expressar assuas emoções, absorvem mal as incompreensões do
dia-a-dia.
Com
um grau de suscetibilidade bemmaior que a maioria dos mortais, elas se abalam e
perdem a criatividade, basicamente, em duas situações: na tristeza e na mágoa.
Não
estou me referindo à tristeza existencial, a dos poetas, que, como já definia
Vinicius em seus versos, é extremamente proveitosa.
Estou
falando daquela tristeza circunstancial, oriunda, fundamentalmente, da
incompreensão e da mágoa que daí advém.
A
visão etérea da vida que pulsa, e que aos poucos se esvai, torna o escritor
muito sensível a tudo que não se encaixe no seu mundo utópico.
Todos
os outros sentimentos são profundamente propícios a quem se desnuda através da
palavra escrita. Essa total exposição, apesar de dolorosa, é absolutamente
indispensável aos portadores dessa verdadeira síndrome que se traduz na arte de
escrever.
O
amor, com a sua consequente alegria de viver, é o melhor caldo de cultura para
esses mergulhadores da alma humana.
Sentimentos
menos nobres como inveja, ódio, maledicência e competição, são sempre
substituídos por racionalismo e compreensão, não por razões meramente
moralistas, mas, tão somente, por tentar buscar beleza em tudo que os cerca.
As
alegrias, sempre encontradas nas pequenas coisas, fazem com que elas cheguem ao
seu ápice. Tudo é maximizado no seu universo onírico, e a sua capacidade de
simbiose com o que os rodeia, chega a níveis que só os poetas vivenciam.
É
como se homem e natureza se unissem numa experiência única.
Entretanto,
as alterações humorais causadas pela tristeza, abatem essas pessoas de uma
maneira devastadora.
Fico
imaginando, por exemplo, um gênio da literatura como Oscar Wilde, que passou
anos de sua vida atormentado por preconceitos torpes, tendo, inclusive, sido
encarcerado por algum tempo em decorrência desses desencontros com a sociedade
em que viveu. Quanta criatividade a humanidade deve ter perdido durante esses
longos períodos!
Inimaginável
é o grande sofrimento a que tantos luminares da história foram submetidos por
pura incompreensão.
Enfim,
é sempre muito difícil lidar com as diferenças, sejam elas econômicas, sociais,
sexuais ou religiosas.
Quem
sabe virá o dia em que todos se respeitarão mutuamente nas suas diferenças e
nos seus anseios, num equilíbrio estável, em que, despidos dos sentimentos de
posse, todos possam exercer a sua plena individualidade.
Como
a mágoa, o ressentimento e a tristeza costumam ser a tônica da vida da maioria
das pessoas, é fácil compreender o estado de estagnação psíquica que assola a humanidade.
Esse
estado crônico, totalmente anômalo, uma vez que nós, assim como toda a espécie
animal, fomos basicamente programados para o prazer e para a contemplação,
somos os responsáveis por inúmeros distúrbios funcionais que geram as chamadas
doenças psicossomáticas, praga dos tempos modernos.
Viva
e deixe viver, seria um bom lemade vida.
Gabriel Novis Neves
17-11-2013
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