domingo, 22 de dezembro de 2013

Calmaria

Belíssima referência da grande diva do teatro brasileiro, Fernanda Montenegro, ao definir, numa recente entrevista, o seu sentimento de apaziguamento ocorrido nos últimos anos de convivência  com o marido - numa relação que durou sessenta anos.
Uma avaliação precisa e inteligente de uma relação amorosa tão longa.
Na verdade, as relações afetivo-sexuais de qualquer tipo, sejam elas homo ou heteroafetivas, são sempre carregadas de tantas nuances positivas e negativas, que lembranças da juventude costumam trazer situações limites, onde encontros e desencontros são muito evidentes.
As dificuldades da vida a dois, a possessividade mútua, os problemas com a criação dos filhos, aliadas às alterações humorais da juventude, transformam esses anos em lembranças tumultuadas para a maioria das pessoas.
Apenas a maturidade consegue mostrar o lado apaziguador dos relacionamentos.
Aprendemos com o tempo a valorizar no outro, não só o que nos agrada, mas, principalmente, o que nos desagrada, e que pode se tornar aceitável.
A meu ver, esse é o estágio de ouro dos relacionamentos, quando, num juízo de valores, passamos a conviver bem com as incompatibilidades.
Só o entendimento da simplicidade da vida e, ao mesmo tempo, da sua importância, pode nos conduzir a esse estágio.
Pessoas que se encontram e que se amam na diversidade, na essência de seus próprios “eus”, ainda que muito desencontrados.
Não acredito nas almas gêmeas, mas acredito que possam se tornar gemelares os encontros na velhice.
Infelizmente, a maioria das pessoas torna-se incapaz, física e emocionalmente para essas experiências.
A natureza, na sua ânsia da procriação, nos oculta essa verdadeira descoberta das trocas mútuas.
A promessa de novas tecnologias médicas para um melhor e maior prolongamento  da vida nos  acena com horizontes muito promissores.
Quem viver, verá.

Gabriel Novis Neves
28-11-2013

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