Um
velho professor de direito dizia aos seus alunos que, nas petições judiciais, o
que abunda não prejudica.
Entretanto,
acho que em certos casos o excesso prejudica.
Nelson
Mandela, herói da simplicidade, tolerância, paciência, humildade, pacificador,
Prêmio Nobel da Paz, acabou de nos deixar.
Todas
as homenagens prestadas ao ilustre inimigo do ódio seriam insuficientes para
traduzir a grandeza do seu caráter.
Nasceu
e viveu lutando pela igualdade de oportunidade ao seu povo. Não pôde realizar
tudo que pretendia, mas deixou as suas ideias para serem seguidas.
Foi
ético em todos os momentos da sua vida, servindo de exemplo ao mundo.
Antes
de morrer pediu que os seus restos mortais fossem enterrados na tribo onde
nasceu. Foi o último ato de amor e despojamento de um homem admirável.
Seu
país é rico em recursos naturais, e a sua gente livre.
Respeito
a cultura dos povos. Emocionei-me ao assistir o Quarup no Xingu, ritual em
homenagem aos mortos que muito fizeram pela causa indígena. Foram dias inteiros
de comemorações, onde cada nação expressou o seu sentimento, de acordo com a
sua cultura, traduzida pelos cânticos, danças, lutas e choro das carpideiras.
Ao
final de três dias é realizado o enterro simbólico na natureza.
O
governo da África do Sul, na eminência da morte do seu filho mais ilustre,
programou com antecedência todos os detalhes do cerimonial, assim como a
logística para receber importantes chefes de Estado.
E
as homenagens transformaram-se no maior palco de hipocrisia programado do
século.
O
“espetáculo” do estádio de futebol é para esquecer, pelo desconforto que teria
causado ao nosso herói, se vivo estivesse.
Os
lugares marcados para os chefes de Estado, a sequência das falas, tudo foi de
uma grosseria chocante.
Ditadores,
democratas, defensores do apartheid educacional, corruptos, criminosos - todos
presentes fingindo terem se convertido em
homens de bem com a morte do mártir da igualdade racial.
Alguns,
leais aos princípios do Mandela, não compareceram ao festival do funeral.
Após
dez dias de intensa exposição na mídia, os oportunistas, não respeitando a
cultura tribal, fizeram com que a maioria da população mundial tivesse uma
intoxicação visual de hipocrisias.
Tudo
tem o seu limite, e o guerreiro da paz teve dificuldade para descansar em paz,
servindo a interesses menores em nome de uma cultura de ocasião que, com
certeza, contou com grandes patrocinadores.
O
mundo órfão jamais irá esquecer o seu mito.
Gabriel Novis Neves
15-12-2013
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.