segunda-feira, 2 de dezembro de 2013

DOIS DE DEZEMBRO

É uma data histórica pouco lembrada. Entretanto, para nós cuiabanos, ela tem um significado especial.
No dia vinte e nove de outubro de mil novecentos e quarenta e cinco caía a longa ditadura de Vargas.
A Presidência da República foi então, provisoriamente, assumida pelo presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Ministro José Linhares.
Imediatamente foram marcadas eleições gerais em todo o país para o dia dois de dezembro. Seriam eleitos o novo presidente do Brasil e os membros do Congresso Nacional – dissolvido pela ditadura de Vargas.
A eleição seria pelo voto direto. As mulheres, pela primeira vez, votaram para presidente no Brasil.
Foi eleito, por ampla maioria de votos, o cuiabano Eurico Gaspar Dutra.
Empossado, pelo também recém-eleito Congresso, jurou cumprir a Constituição Federal, e assim o fez durante o seu mandato.
Mas, o fato importante a que me refiro, é que o cuiabano, do extinto bairro ribeirinho do Grande Terceiro, perdeu as eleições em sua cidade natal.
Com essa derrota, o presidente Dutra derrotou também inúmeras crendices que povoavam nossa imaginação.
A maior de todas elas era o corporativismo do povo cuiabano, considerada uma sociedade fechada, que só valorizava os habitantes nascidos nesta “Terra Agarrativa e Linda”.
A história do cuiabano de “tchapa e cruz”, que só via valores nos nativos, se perderam nas águas saudáveis do hoje inexistente “Córrego da Prainha”, que cortava a cidade e desembocava no ainda não poluído Rio Cuiabá.
Dutra perdeu as eleições em Cuiabá para um seu colega militar carioca, cujo slogan de campanha foi uma das peças mais odiosas e preconceituosas que já vi.
Seus conterrâneos e adversários políticos gritavam pelos comícios e ruas de Cuiabá esta maravilha que depõe contra a cultura e hospitalidade da nossa gente.
“Brigadeiro é bonito, é faceiro, é solteiro e tem dinheiro”!
Dutra era um cuiabano muito feio, cabeça chata, sem pescoço, baixo, pobre, falava o “cuiabanês” e era casado.
Eu tinha, na ocasião, apenas dez anos de idade, e me senti ofendido com tamanha discriminação e preconceito contra um cidadão desta terra, que chegou a esse posto máximo graças a um passado ético, eficiente e republicano.
Dutra exerceu o poder respeitando a Constituição. Ao término do seu democrático governo, providenciou eleições e as presidiu como magistrado, encerrando com dignidade a sua vida pública.
Nasceu e morreu pobre, deixando como legado ao povo brasileiro seu caráter e o amor em servir a pátria.
Esquecido na sua terra natal foi, até hoje, o único cuiabano a ocupar a Presidência do Brasil.

Gabriel Novis Neves
01-12-2013

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