É
uma data histórica pouco lembrada. Entretanto, para nós cuiabanos, ela tem um
significado especial.
No
dia vinte e nove de outubro de mil novecentos e quarenta e cinco caía a longa
ditadura de Vargas.
A
Presidência da República foi então, provisoriamente, assumida pelo presidente
do Supremo Tribunal Federal (STF), Ministro José Linhares.
Imediatamente
foram marcadas eleições gerais em todo o país para o dia dois de dezembro.
Seriam eleitos o novo presidente do Brasil e os membros do Congresso Nacional –
dissolvido pela ditadura de Vargas.
A
eleição seria pelo voto direto. As mulheres, pela primeira vez, votaram para
presidente no Brasil.
Foi
eleito, por ampla maioria de votos, o cuiabano Eurico Gaspar Dutra.
Empossado,
pelo também recém-eleito Congresso, jurou cumprir a Constituição Federal, e
assim o fez durante o seu mandato.
Mas,
o fato importante a que me refiro, é que o cuiabano, do extinto bairro
ribeirinho do Grande Terceiro, perdeu as eleições em sua cidade natal.
Com
essa derrota, o presidente Dutra derrotou também inúmeras crendices que
povoavam nossa imaginação.
A
maior de todas elas era o corporativismo do povo cuiabano, considerada uma
sociedade fechada, que só valorizava os habitantes nascidos nesta “Terra
Agarrativa e Linda”.
A
história do cuiabano de “tchapa e cruz”, que só via valores nos nativos, se
perderam nas águas saudáveis do hoje inexistente “Córrego da Prainha”, que
cortava a cidade e desembocava no ainda não poluído Rio Cuiabá.
Dutra
perdeu as eleições em Cuiabá para um seu colega militar carioca, cujo slogan de
campanha foi uma das peças mais odiosas e preconceituosas que já vi.
Seus
conterrâneos e adversários políticos gritavam pelos comícios e ruas de Cuiabá
esta maravilha que depõe contra a cultura e hospitalidade da nossa gente.
“Brigadeiro
é bonito, é faceiro, é solteiro e tem dinheiro”!
Dutra
era um cuiabano muito feio, cabeça chata, sem pescoço, baixo, pobre, falava o
“cuiabanês” e era casado.
Eu
tinha, na ocasião, apenas dez anos de idade, e me senti ofendido com tamanha
discriminação e preconceito contra um cidadão desta terra, que chegou a esse
posto máximo graças a um passado ético, eficiente e republicano.
Dutra
exerceu o poder respeitando a Constituição. Ao término do seu democrático
governo, providenciou eleições e as presidiu como magistrado, encerrando com
dignidade a sua vida pública.
Nasceu
e morreu pobre, deixando como legado ao povo brasileiro seu caráter e o amor em
servir a pátria.
Esquecido
na sua terra natal foi, até hoje, o único cuiabano a ocupar a Presidência do
Brasil.
Gabriel
Novis Neves
01-12-2013
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