segunda-feira, 9 de dezembro de 2013

Presença da ausência

A vida nos coloca em tantas encruzilhadas que, muitas vezes, não sabemos qual caminho tomar.
Se nos calamos diante de certas circunstâncias, esse silêncio jamais será compartilhado. Tentei o silêncio em data que só a mim interessava.
Agora enfrento, por necessidade emocional, talvez o maior desafio de escrever sobre uma data importante, mais pelo seu simbolismo cultural.
Hoje, se Regina estivesse neste plano, estaríamos comemorando cinquenta anos de casados – nossas Bodas de Ouro.
Tenho certeza que todos os preparativos para esta celebração seriam feitos pelos filhos, e o cerimonial cumprido por mim e pela Regina por generosidade às pessoas amadas.
Nós dois não éramos apegados a esse tipo de festa. Ao longo da nossa vida em comum tivemos inúmeras datas e momentos marcantes. E, muitos desses instantes, por mais alegres e festivos que fossem, eram comemorados na intimidade de nossa cumplicidade.
Falecida há quase oito anos, não sei me expressar com relação "a esse ponto luminoso" da minha vida.
Como comemorar as minhas Bodas de Ouro de casado?
Com o silêncio? Na solidão da multidão, é doença grave.
Ficarei no registro do dia nove de dezembro de 1963 – onde tudo começou. Igreja de nossa Senhora do Outeiro da Glória, no Rio de Janeiro.
Eu, um médico com três anos de formado. Ela, uma menina.
Presentes ao ato religioso, meu pai, minha mãe, familiares da Regina, parentes e amigos queridos.
A recepção para os familiares foi na casa do padrinho da noiva.
A lua de mel em Friburgo, com partida de ônibus da Rodoviária no centro da cidade.
O retorno. As incertezas. A gravidez. Nossa mudança para Cuiabá. A adaptação à nova vida, cheia de dificuldades econômicas.
A escadinha dos filhos nascidos aqui: Mônica, Ricardo e Fernando. 
A luta pela subsistência. Os filhos formados em Direito, Odontologia e Medicina. Casamentos. Nascimentos de cinco netas e um neto, amores ilimitados da avó.
A morte traiçoeira. O recomeço. Os traumas.
Hoje, seria realizada a festa que não houve, porque assim estava escrito.
Mas, acreditem. Os viúvos também comemoram essa data, com a “presença da ausência, que é a saudade”.

Gabriel Novis Neves
26-11-2013

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