A
vida nos coloca em tantas encruzilhadas que, muitas vezes, não sabemos qual
caminho tomar.
Se
nos calamos diante de certas circunstâncias, esse silêncio jamais será
compartilhado. Tentei o silêncio em data que só a mim interessava.
Agora
enfrento, por necessidade emocional, talvez o maior desafio de escrever sobre
uma data importante, mais pelo seu simbolismo cultural.
Hoje,
se Regina estivesse neste plano, estaríamos comemorando cinquenta anos de
casados – nossas Bodas de Ouro.
Tenho
certeza que todos os preparativos para esta celebração seriam feitos pelos
filhos, e o cerimonial cumprido por mim e pela Regina por generosidade às
pessoas amadas.
Nós
dois não éramos apegados a esse tipo de festa. Ao longo da nossa vida em comum
tivemos inúmeras datas e momentos marcantes. E, muitos desses instantes, por
mais alegres e festivos que fossem, eram comemorados na intimidade de nossa
cumplicidade.
Falecida
há quase oito anos, não sei me expressar com relação "a esse ponto
luminoso" da minha vida.
Como
comemorar as minhas Bodas de Ouro de casado?
Com
o silêncio? Na solidão da multidão, é doença grave.
Ficarei
no registro do dia nove de dezembro de 1963 – onde tudo começou. Igreja de
nossa Senhora do Outeiro da Glória, no Rio de Janeiro.
Eu,
um médico com três anos de formado. Ela, uma menina.
Presentes
ao ato religioso, meu pai, minha mãe, familiares da Regina, parentes e amigos
queridos.
A
recepção para os familiares foi na casa do padrinho da noiva.
A
lua de mel em Friburgo, com partida de ônibus da Rodoviária no centro da
cidade.
O
retorno. As incertezas. A gravidez. Nossa mudança para Cuiabá. A adaptação à
nova vida, cheia de dificuldades econômicas.
A
escadinha dos filhos nascidos aqui: Mônica, Ricardo e Fernando.
A
luta pela subsistência. Os filhos formados em Direito, Odontologia e Medicina.
Casamentos. Nascimentos de cinco netas e um neto, amores ilimitados da avó.
A
morte traiçoeira. O recomeço. Os traumas.
Hoje,
seria realizada a festa que não houve, porque assim estava escrito.
Mas,
acreditem. Os viúvos também comemoram essa data, com a “presença da ausência,
que é a saudade”.
Gabriel
Novis Neves
26-11-2013
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